Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

34 A exposição das 18 aquarelas emgrande formato noCentro de Cultura da UFRGS, parte do projeto de extensão “MEMÓRIA – 50 ANOS DOS EXPURGOS DA UFRGS”, de um coletivo de professores de diversas áreas da universidade fez emergir um campo privilegiado de fantasmagorias. Sem dúvida, uma das atividades mais intensas que experimentei em toda minha vida. Por quarenta dias e noites me submeti a uma espécie de transe vertiginoso. Circulei com pessoas nunca vistas, batalhas perdidas, gritos esquecidos e gestos estranhos, carregados de muita expressão. Vi a realidade como desenho, fui perturbado pela arte, obtive o olhar de um louco. Nos lugares, olhei as pessoas e medi suas sombras, fitei o detalhe dos seus brilhos nas pontas de seus narizes, a posição dos olhos, a geometria das cenas que se descortinavam. Viajei no tempo, estive com políticos, vivi seus medos, me embrenhei em multidões do passado e compartilhei suas tragédias. Foi em meio a essa sanha incessante, em meu apartamento no Bom Fim, numa tarde quente de outubro, que sobreveio o inexplicável comum aos presságios e às conjurações. Na tela aberta do notebook que eu usava para capturar e copiar as imagens, pousou um filhote de passarinho.... Tal acontecimento fraturou minha vontade, piorou a desordem afetiva, remexeu minhas perturbações éticas e morais e acrescentou uma dimensão surreal ao que eu fazia. Somente quando foi finalizada a exposição, plenamente acolhida pela excelente direção e organização do Centro Cultural da UFRGS, foi que percebi no silêncio de um respeito profundo e insondável o que aquele pássaro tanto havia conjurado quanto pressagiado. Isto aconteceu durante as palavras finais e emocionadas da querida professora homenageada Maria Luiza Armando: “Vocês me reconciliaram com a UFRGS”.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz