Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

78 desdobramentos que assolaram o Brasil; entre eles, uma nova onda de expurgos sobre a UFRGS. No ano de 1979, ainda com o regime de exceção vigente, mas com sinais de relativa abertura política, a luta pela recuperação das liberdades cerceadas denunciava os crimes estatais e o silêncio e a invisibilização social que sofriam aqueles indivíduos cujos rastos o regime tentara apagar, nas suas mais variadas dimensões (política, profissional, humana, cidadã). Simultaneamente, a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ADUFRGS), fundada no ano anterior, assumia como compromisso ético e político dar publicidade à trama kafkiana imposta na universidade pelos donos do poder e pelos asseclas associados e funcionais que cumpriram seus desígnios. A primeira direção da ADUFRGS, assim, desvelou a trama persecutória a que haviam sido submetidos os educadores expurgados. O livro Universidade e repressão: os expurgos na UFRGS9 foi o resultado desse esforço e, provavelmente, uma das primeiras e maiores formas de reparação recebidas por aqueles. Outro salto no tempo leva ao cenário democrático de 2012 quando, sob a pressão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos, das organizações de direitos humanos, de certas entidades políticas e sociais e da responsabilização do Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos (Caso Gomes Lund e outros) – por crimes de lesa humanidade cometidos durante a ditadura e pela omissão em esclarecê-los –, tomou posse a Comissão Nacional 9 A primeira edição foi publicada em 1979 pela L&PM Editora, com o registro autoral da ADUFRGS, como forma de preservar o anonimato dos autores em um contexto carregado ainda de violência e de incertezas. Uma segunda edição, lançada em 2008 pela mesma editora, esclareceu o fato e fez o devido registro autoral.

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