Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

81 Um último registro cronológico corresponde ao leque temporal 2016-2020, quando forças políticas de extrema-direita, articuladas com o neoliberalismo exacerbado e com frações de tradição conservadora e postura reacionária, avançaram pelo país. Tal fato veio acompanhado de virulenta defesa da exclusão de classe, intolerância e discriminação contra todo projeto associado a uma visão social inclusiva; o sistema de ensino público, em geral, e o universitário em particular, foram identificados como um dos alvos prioritários da fúria fundamentalista e anticientífica que tomou conta de parte da população, das instâncias de poder e das redes sociais, atualizando a diretriz do inimigo interno da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) que embasara a ditadura. Entre desconhecedores, esquecidos e esquecedores existem nuanças que os distinguem. Quanto ao primeiro grupo há quem, por múltiplos fatores, pouco sabe sobre a história contemporânea brasileira. Entende-se, trata-se de um país continental e o seu sistema de ensino (especialmente a educação básica) é problemático, por muitos motivos (e interesses). Do grupo dos esquecidos fazem parte indivíduos que possuem informações sobre a ditadura, mas que, por conveniência própria, convicção política ou alienação, as apagaram; alguns se justificam com o discurso da necessidade de olhar para o futuro e enterrar o passado. Finalmente, estão os esquecedores, os que, durante anos, foram responsáveis por políticas de esquecimento induzido, que contribuíram eficientemente para a produção de narrativas caracterizadas por um relativismo exagerado ou diretamente revisionistas e negacionistas. Os esquecedores (e boa parte dos esquecidos) provavelmente se identificam com o bolsonarismo que, por sua vez, traz uma perturbadora novidade: a reivindicação dos “anos de chumbo” e dos seus crimes. Consequentemente, traçar paralelos e

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz