82 reconhecer elementos correlatos do presente com o ciclo da ditadura é muito mais do que mero exercício de abstração. PROFESSORES TRATADOS COMO INIMIGOS INTERNOS Durante 21 anos, a partir do golpe de Estado e da imediata Operação Limpeza, dezenas de milhares de cidadãos foram perseguidos e transformados em suspeitos, dinâmica que permaneceu constante, embora variando de intensidade, até o final do regime. A metodologia empregada para tanto foi muito além dos crimes de lesa humanidade (tortura, desaparecimentos e execuções), expressão mais explícita da sua barbárie. De fato, cassações, exílios, expurgos e censura também foram produtos do terrorismo de Estado – que, além de criminoso, desmobilizou a maioria da oposição, anestesiou parte da população e produziu uma amnésia social coletiva. O sistema educativo foi impactado com especial ênfase. Desde o início, o regime explicitou suas intenções. O incêndio da sede da UNE foi um brutal cartão de apresentação à sociedade. O movimento estudantil sofreu constantes represálias e monitoramento enquanto milhares de funcionários foram afastados dos seus cargos na administração estatal. Quanto aos docentes que permaneceram na função, houve intensa vigilância nos locais de trabalho e eles tiveram de conviver com as múltiplas tensões que as mudanças promovidas acarretaram. A injeção de investimentos em obras de infraestrutura e as reformas curriculares impostas pelo regime de exceção, base de uma modernização universitária que devia ser peça essencial na construção do “Brasil potência”, não conseguiram esconder a opressão interna, o impacto produzido pelos acordos MEC-USAID, nem a tecnificação do ensino, estabelecida em detrimento de uma visão humanista.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz