83 Escolas e universidades viraram objetivos estratégicos para a nova ordem, no entendimento da obrigação de salvar os “filhos não contaminados da nação”, assediados por docentes considerados subversivos, ou seja, inimigos internos de acordo com o léxico das Forças Armadas. O “combate” pela formação das novas gerações de crianças, adolescentes e jovens exigia contínua transmissão de códigos e valores morais, ordem patriótica (de inspiração militar) e disciplinamento dos corpos e das consciências. Os espaços educativos, destarte, foram percebidos como “zona de guerra” onde, segundo a DSN, devia-se enfrentar a subversão, depurar as instituições e conquistar os “corações e mentes”. A intervenção nos currículos escolares e o esvaziamento de uma perspectiva humanista, em benefício do tecnicismo e da preparação massificada para o trabalho, foram coerentes com os esforços de propaganda na veiculação de projetos de alfabetização funcionais. A supressão do estudo de questões contemporâneas que não interessavam ao regime e o desestímulo à crítica da realidade e do conhecimento produziram retrocesso e simplificação no sistema de ensino. A perda de qualidade se traduziu em uma multidão de crianças, adolescentes e jovens que tiveram acesso a conteúdos fragmentados, superficiais, segmentados e desconectados do mundo real. A promoção de um conhecimento pasteurizado pelos tecnocratas do regime se evidenciou, ainda mais, com a imposição das disciplinas de “Educação Moral e Cívica”, “Organização Social e Política Brasileira”e “Estudos dos Problemas Brasileiros”, nos três respectivos níveis de ensino. Nesse sentido, pretendia-se que ninguém ficasse fora do alcance de uma doutrinação de traços autoritários, conservadores e ufanistas, componentes constitutivos dos fenômenos fascistas, repaginados pelas urgências da Guerra Fria e que persistem em pleno século XXI, no discurso antidemocrático da extrema-direita que governa o país e de suas bases de apoio.
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