84 A perseguição contra a educação e os educadores que discordam de princípios autoritários e dogmáticos é prática comum em regimes com perfis que variam entre o autoritarismo e o fascismo, para os quais a liberdade de pensamento, o pensamento crítico e autônomo e o questionamento do status quo devem ser objeto de enquadramento. Dadas tais diretrizes, as universidades foram, durante a ditadura, espaços de denúncia e depuração de inimigos internos, pré-condição para transformá-las em exemplo de “bom comportamento” (apatia, acomodação e, se possível, adesão), a ser transmitido ao conjunto da população. Nessa perspectiva, pretendia-se evitar a formação de cidadãos conscientes e críticos aos postulados do autoritarismo. Por isso, compreende-se a fúria rasa, vazia e sem argumento contra Paulo Freire, cuja demonização é elemento comum da Ditadura de Segurança Nacional e do governo Bolsonaro. Vinculações com entidades políticas e sociais de esquerda ou centro-esquerda e demonstrações de simpatia pelo governo deposto geravam suspeição e viravam peças de acusação. Houve docentes punidos por terem boas relações com os alunos, por serem reconhecidos pela qualidade das aulas ministradas, muito procuradas, o que, segundo a ordem vigente, podia ser demonstração de comportamento subversivo. A esse respeito, no livro Universidade e repressão: os expurgos da UFRGS, afirma-se que: [...] A Universidade deve ser, por sua própria essência, o local de reflexão, de críticas e de debates, comportando democraticamente opiniões diversas e mesmo antagônicas. [...] Este clima e esta verdade [...] não puderam ser tolerados e não foram entendidos por alguns setores da vida universitária que, comprometidos com uma visão autoritária e imutável da sociedade, denunciavam em qualquer movimento transformador uma ameaça às estruturas vigentes e a instigação à subversão da hierarquia, das quais tão zelosamente se fizeram guardiães. Foram esses setores que forneceram os juízes da CEIS – os inquisidores que, a
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz