85 partir de acusações ora vagas, ora ridículas, mas covardes e pusilânimes todas, porque anônimas, submeteram a um simulacro de julgamento os professores que tinham ousado pensar e agir fora dos parâmetros tradicionais.13 Todavia, as recordações dos expurgados assinalam que as acusações sofridas não foram motivadas somente por questões políticas. Entre os perseguidos, há quem lembre, ademais, de colegas que tiveram atitudes oportunistas, visando uma ascensão fácil na carreira universitária, prontificando-se a participar como integrantes ou testemunhas das comissões de inquérito contra seus colegas. Nunca é demais reforçar que, se houve professores sumariados, é porque houve quem serviu de instrumento para aplicação dessas práticas discricionárias no interior da universidade, fosse por convicções ideológicas, por medo de punição ante o descumprimento de ordens ou pela simples vileza de almejar benefícios pessoais. A mesma instituição que teve docentes atingidos por perseguição política contava, entre os seus quadros, com profissionais que agiram como colaboradores e delatores, em plena sintonia com as diretrizes do regime. Por outro lado, é necessário registrar que diversos colegas, inclusive com cargos de chefia, negaram-se peremptoriamente a participar dessa farsa de cartas marcadas, tendo alguns se demitido do cargo em solidariedade aos colegas removidos. A presença de arapongas e agentes (visíveis ou infiltrados)nas salas de aula e nos corredores das faculdades era conhecida e gerava intimidação. Professores, alunos e funcionários eram obrigados a medir as palavras, falar em código, comportar-se com cautela, conter a indignação e evitar exposições frontais. A pressão coercitiva 13 AVERBUCK, Lígia et al. Universidade e repressão: os expurgos na UFRGS. 2. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 21.
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