Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

87 para lidar com a perseguição”.16 Tal situação foi corroborada, na mesma ocasião, por Nelson Souza, um dos expurgados: “A Universidade como um todo sofreu uma violência moral, mas quem sofreu violência física e enfrentou a prisão foram os estudantes”.17 SOBREVIVER AOS EXPURGOS A sobrevivência material dos docentes expulsos se constituiu, em um primeiro momento, na urgência mais imediata a ser resolvida, junto com a carga emocional e psicológica resultante. Para a maioria, o enfrentamento da nova situação se deu em circunstâncias muito adversas. A dimensão das perdas é difícil de mensurar; quem não sofreu essa experiência pode incorrer em relativização do drama vivido. A condição de expurgado acarretou, imediatamente, no cessar da atividade laboral à qual esses profissionais dedicaram a sua formação, investindo tempo, energia e recursos materiais. Para piorar, os nomes de muitos deles passaram a constar em listas que circulavam pelos labirintos da burocracia pública e das empresas e estabelecimentos privados. Se nas repartições estatais a proibição da sua contratação era ordem a ser cumprida, nas empresas privadas era uma forte recomendação a ser considerada. A ditadura agiu de forma deliberada contra esses cidadãos, prejudicando-os onde era possível, estigmatizando-os, interrompendo suas carreiras, procurando asfixiá- -los economicamente, cassando direitos, amedrontando e debilitando seus círculos sociais e de afeto – ao incluir nas suas ameaças aqueles que fossem solidários. 16 CHALA, Ânia. Memórias da repressão. Jornal da Universidade, p. 8, dez. 2008. 17 Ibidem, p. 9.

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