88 Cidadãos foram intimidados e punidos pelo seu presente, mas também pelo seu passado, criminalizando atitudes que antes do golpe de Estado eram parte da rotina democrática da cidadania. Aliás, é característico do terrorismo de estado punir suas vítimas pelo que fazem, podem vir a fazer ou fizeram, pois aplica critérios de punição, tanto de forma preventiva quanto retroativa. Em função disso, foi necessário aprender e desenvolver outras habilidades profissionais no comércio, no setor de serviços etc.Trajetórias de especialização, de acúmulo de experiência e capital simbólico, e de amadurecimento profissional, acabaram truncadas, temporária ou definitivamente, pela pressão coercitiva imposta a quem divergia e contestava. Sobreviver após os expurgos exigiu superar difíceis e inesperados desafios, que variaram caso a caso; mesmo assim, ninguém ficou indiferente ante essa nova situação, marcada por incertezas e insegurança. Por causa do temor da repressão, ou diante da impossibilidade de conseguir emprego em função das listas que circulavam por todo o território nacional, alguns professores partiram para o exílio, realidade sempre dura. Porém, no caso dos que conseguiram se inserir em instituições acadêmicas e centros de pesquisa, o quadro encontrado compensava as agruras da mudança, o esforço de adaptação e a saudade da terra e dos seres queridos. O exílio, nessas condições, acabou sendo para alguns a oportunidade para retomar a docência e a pesquisa e levar uma vida razoável, em comparação com as circunstâncias sufocantes do país de origem, conforme aconteceu, por exemplo, com Cláudio Accurso. Para a maioria dos professores expurgados que permaneceram no Brasil, foi impossível exercer a docência. Além disso, o discurso oficial os identificava como subversivos, agentes estrangeiros e antipatriotas. Quem vivenciou essa condição acabou experimentando uma situação que tinha paralelos com a clandestinidade
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