89 e, também, com certa perspectiva do exílio. Tais comparações não são exageradas. Em relação ao clandestino, pode-se dizer que este sabia que precisava seguir rígidos protocolos de segurança. Não podia ser reconhecido, nem fazer contatos com familiares e amigos, evitava ser visto nos circuitos urbanos dos seus círculos afetivos e profissionais, pois, além de não se expor, nem expor aos outros, vivia oculto sob outra identidade; se fosse reconhecido, sabia que seria preso, torturado ou executado. No limite, essa sobrevivência oculta, encoberta, podia ser compreendida como uma opção (de margem muito estreita), entre a morte, a prisão ou o exílio. Desconsiderando a tênue fronteira que separava a vida da morte, no caso de muitos clandestinos, a condição do expurgado, em certos aspectos, não era tão diferente. Efetivamente sofria restrições laborais, era impedido de circular no local de trabalho anterior, seu nome era monitorado quanto à ocupação de emprego na esfera pública e devia tomar precauções para não expor terceiros. Mas, independentemente dessas severas restrições, podia continuar contando com o apoio do núcleo familiar mais estrito e de um ou outro companheiro. No entanto, simultaneamente, constatava olhares que se desviavam do seu ou que pareciam acusatórios; percebia o distanciamento de colegas, vizinhos ou amigos que negavam um cumprimento ou uma palavra de conforto, reforçando, assim, a sensação de rejeição. Portanto, enquanto o clandestino devia permanecer invisível para não ser reconhecido, os alvos de depurações sofriam a invisibilidade social que resultava da rigorosa restrição política e laboral. O isolamento sofrido por muitos dos docentes removidos derivou da introjeção, em parte da população, de percepções negativas a seu respeito. Para Hannah Arendt, o isolamento social, resultado desejado pelo sistema repressivo, visa pulverizar a capacidade de respostas coletivas, estimulando saídas individuais e introspectivas,
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