90 pois “o terror só pode reinar absolutamente sobre homens que se isolam uns contra os outros”.18 A desconfiança, a suspeita e o temor de “contaminação” dos indivíduos execrados pelo regime não partiam somente da sua parcela de colaboradores e simpatizantes,mas igualmente de quem estava sendo devorado pela cultura do medo, de nefastas consequências, o que, evidentemente, repercutia na solidão dos perseguidos e das suas famílias, ao reforçara paralisia social em detrimento da solidariedade. A interrupção compulsória de carreiras promissoras ou consolidadas foi ponto de inflexão na vida dos expurgados, pois impediu a continuidade de trabalhos, pesquisas e contatos acadêmicos, ocasionando sentimentos de impotência e frustração. As incertezas quanto à sobrevivência material a partir dos ditames bloqueadores afetaram muitas famílias (inclusive com crianças pequenas). Para parte dos atingidos, a proibição laboral teve efeitos psicológicos. Esta é a particularidade da violência que atingiu essas mulheres e esses homens que gostavam de lecionar e da motivadora interação com os discentes. Diante disso, como mensurar a essência dessa proibição? Como avaliar a gravidade das perdas individuais, familiares e sociais produzidas por essa política macarthista? Talvez somente outro docente, que realmente goste da profissão, possa dimensionar o drama sofrido por quem foi castigado pela excelência do desempenho na função correspondente e porque correlacionava a dimensão profissional à atuação cidadã no sentido amplo da palavra. Há uma dimensão coletiva na forma como ocorreu a agressão contra os docentes. Porém, existe também uma dimensão individual do drama vivido. Sendo assim, de que maneira se pode medir e reparar a dor do professor Carlos Fayet, proibido de dar aulas na Faculdade de Arquitetura e, inclusive, de caminhar na calçada do 18 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 526.
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