91 antigo prédio de trabalho? Por causa disso, Fayet, nas primeiras semanas após ser afastado, nos dias correspondentes às aulas que fora impedido de ministrar, minutos antes do início das mesmas, contornava de carro o quarteirão da faculdade, lentamente, vendo os ex-alunos entrarem no prédio, enquanto ele era tomado por uma profunda tristeza. Ao lembrar-se da cena, quase trinta e cinco anos depois, a tristeza continuava estampada no seu rosto,na voz embargada e nas suas lágrimas.19 Docentes que vivenciam a aula com paixão sentem o espaço escolar como parte intrínseca da sua geografia afetiva. A ruptura desse elo pode ser traumática. A dimensão psicossocial da DSN instrumentalizava a ditadura e, por isso, as conotações psicológicas de qualquer ação punitiva faziam parte do cálculo da estratégia política maior. Nesta perspectiva, o drama de Fayet sintetiza o de milhares de pessoas que perderam seus cargos, empregos e direitos.Tal situação aproxima-se à ideia de “inxílio”, essa outra forma de exílio, vivida, no entanto, dentro do próprio país. Essa situação se configurava com a interdição da rotina da existência, a sonegação de solidariedade e a percepção, como própria, da discriminação que filhos e demais familiares sofriam por extensão, essa marca na testa por ser filho de..., irmão de..., companheira de...20 19 Depoimento de Carlos Maximiliano Fayet. Projeto Memória Digital. Acervo da Luta contra a Ditadura/TVE. Porto Alegre, 2004. Coordenação da jornalista Noeli Lisboa. 20 Segundo Carina Perelli e Juan Rial o neologismo “inxílio” foi criado por Pérez Pinto (PERELLI, Carina; RIAL, Juan. De mitos y memorias políticas da represión, el miedo y después... Montevideo: Banda Oriental, 1986). Significa exílio interno; corresponde ao isolamento do indivíduo que não se reconhece mais onde está, nem naquilo que faz, nem nas relações com os demais; sofre o tempo indefinido e congelado do exilado, mas o sofrimento não está no distanciamento geográfico e cultural, e sim no não-reconhecimento do seu meio social mais imediato. É o exílio experimentado sem abandonar o próprio país. Ver: PADRÓS, Enrique Serra. Como el Uruguay no hay... Terror de Estado e Segurança Nacional - Uruguai (1968-1985): do Pachecato à Ditadura Civil-Militar. Porto Alegre. 2005. 878 f.Tese
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