92 Assim, o inxílio é o estranhamento de não estar preso, mas saber-se monitorado, impedido de trabalhar e identificado com a subversão, com toda a conotação negativa que este vocábulo comporta para uma população amedrontada, cooptada, manipulada. O escritor uruguaio Mario Benedetti, desde o seu exílio, contrastou a sua experiência com a dos inxiliados, compreendendo o drama de quem fora obrigado a abandonar a sua terra, mas também reconhecendo o de quem havia ficado: Todos estuvimos amputados: ellos de la libertad; nosotros del contexto.21 Para muitos dos expurgados, a sobrevivência no país configurou essa dura situação de inxílio. LEMBRAR, HOMENAGEAR, REPARAR No Brasil da impunidade, o esquecimento induzido, o negacionismo e as responsabilidades subjacentes se conjugam. Não surpreende, deste modo, o silêncio sobre crimes estatais que, comparativamente, podem ser considerados menores (em relação, por exemplo, à tortura e ao desaparecimento de opositores). Se estes crimes foram e continuam sendo ignorados ou relativizados, o que esperar quanto à elucidação dos demais? Se o poder não se abala com crimes de lesa humanidade, muito menos se preocupa com as depurações realizadas nas instituições públicas. Se notórios torturadores, da magnitude de um Brilhante Ustra, são heróis de políticos e generais que administram o Estado democrático, que expectativa se pode ter sobre a responsabilização daqueles que viabilizaram e colaboraram com “a caça às bruxas” no interior das universidades? Se o pacto do silêncio sobre tais crimes é a regra e a impunidade é seu corolário, então, home- (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. t. 1. p. 102. Também: CUNHA-GIABBAI, Gloria da. El exílio: realidad y ficción. Montevideo: Arca, 1992. p. 21-22. 21 BENEDETTI, Mario. El “desexilio”. El País, Madrid, 17 abr. 1983.
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