95 A anistia promovida pela ditadura, no que diz respeito aos docentes atingidos, perdoou seus crimes. Mas quais crimes, se as acusações e os processos decorrentes foram afrontosos? Por isso é preciso realçar a contundência das palavras da família do professor Ângelo Ricci23: “A família Ricci, unida, desde o dia 17 de julho de 1977, concedeu anistia ampla, geral e irrestrita a todos os que perseguiram este homem,até o destruírem interiormente”.No caso de Ricci e dos demais docentes expurgados, não cabe dúvidas, o crime foi cometido pelo Estado, pelos seus agentes e colaboradores, incluindo os que participaram desde o interior da própria universidade. Lembrar desses fatos representa, consequentemente, recuperar biografias, embates e resistência diante das dificuldades impostas pelo poder discricionário; da mesma forma, qualifica a continuidade das lutas que marcam a história de sucessivas camadas de docentes, técnicos-administrativos e alunos que persistiram e persistem em fazer da universidade um instrumento mais incisivo no processo das transformações sociais mais inclusivas. Em síntese, divulgar e conhecer essa história é estender uma ponte que permite conectar aquela geração de educadores com as mais novas, particularmente no que tange ao compromisso com uma visão de mundo humanista e solidária. Materializar os fatos e os protagonistas sobre os quais silenciam as políticas estatais de esquecimento tem sido objetivo constante das organizações de direitos humanos, o que ganhou maior dimensão com o peso crescente dos debates sobre a Justiça de Transição. Justamente, foi no cerne da luta por Memória, Verdade e Justiça que surgiram as mais diferentes formas de confrontar a desmemória. A multiplicidade de iniciativas realizadas pelo Coletivo Memória e Luta gerou uma série de artefatos culturais; alguns são físicos, de exposição permanente 23 São as mesmas que correspondem à epígrafe contida no início deste artigo.
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