Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

97 artefato e o lugar que ocupa transmutam-se em espaço de reflexão, identidade, luta e memória; ou seja, de interpelação de consciências e sensibilidades. Toda marca da memória, no futuro, recebe novas ressignificações25, mas no caso específico, a sua origem estará sempre associada à homenagem realizada 50 anos após a segunda leva de expurgos e à luta e resistência contra a ditadura. As palavras inscritas na placa incrustada na pedra elencam valores e atitudes universalmente reconhecíveis: “Aos que lutaram, resistiram e nos legaram solidariedade e esperança”. Certamente são representativas e compreensíveis para a geração coetânea ao regime de exceção e aos expurgos, mas também para as que vieram depois. Contudo, tanto o significado do memorial quanto as palavras da placa poderão ser apreciados a partir das urgências de novos cenários, como o do bolsonarismo. Sendo assim, essa marca pode vir a cumprir outras funções, que podem ir além do recordar, homenagear e reparar; ela também pode se configurar como fonte para motivar, energizar e inspirar. O conjunto de 18 aquarelas de autoria de José Carlos Lemos se constitui, por sua vez, em rico painel que, centralizado no protagonismo dos docentes punidos e na vida institucional da UFRGS, atravessa o panorama histórico, político e cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil. Tomadas uma a uma, cada aquarela expressa uma unidade focada em um evento particular e nos protagonistas vinculados, compondo um universo de sentidos próprio, à procura da decodificação feita com a cumplicidade do observador.Traços essenciais da história do RS ocupam o centro da atenção em algumas delas, enquanto em outras funcionam como pano de fundo para eventos intrínsecos ao cotidiano da universidade e à luta docente e 25 JELIN, Elizabeth; LANGLAND, Victoria (Comps.). Monumentos, memoriales y marcas territoriales. Madrid: Siglo XXI, 2003. p. 1-9.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz