Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

98 estudantil. Já quando percebidas em conjunto, as aquarelas constituem um amplo panorama da história do Brasil contemporâneo, apoiado em um repertório de marcos que percorrem diversas dimensões da realidade política e social. O livro que aqui conclui é uma homenagem àquelas mulheres e àqueles homens que carregam nas suas vivências a essência da palavra dignidade. De fato, a dignidade está presente na postura e na luta dos professores expurgados, os quais, sendo profissionais corretos, sofreram acusações absurdas e, após terem sido “condenados”,tiveram de enfrentar a tormenta decorrente de tamanha infâmia. Transborda dignidade e também a coragem dos colegas da primeira direção da ADUFRGS que, ainda em ditadura, recordaram os docentes afastados, expondo a farsa dos inquéritos; tal atitude possibilitou a estes, pela primeira vez, o direito a serem ouvidos pela comunidade universitária. Por fim, encontra-se dignidade nos docentes do Coletivo Memória e Luta que, no contexto do regressivo e ameaçador bolsonarismo, não esqueceram dos professores expurgados, dos incidentes correlatos e nem dos “lembradores” anteriores. Tanto estes professores quanto os da geração de 1979, com suas posturas e iniciativas, corporificam o que no campo dos Direitos Humanos, dos estudos sobre memória e das consignas do “Nunca Mais” e de “Memória, Verdade e Justiça”, denomina-se como “empreendedores da memória”26, sujeitos fundamentais, sobretudo em países onde nem o Estado nem suas instituições confrontam a impunidade e a desmemória. 26 Pessoas que se colocam contra as políticas de esquecimento e silenciamento dos crimes do passado traumático assumindo iniciativas que contribuem com o resgate da memória, a recuperação de informação para resolver casos individuais e que levam adiante denúncias coletivas. Com suas ações conjugam o presente em que atuam, ligando-o ao processo histórico anterior (localizado no reconhecimento às vítimas e na recuperação dos fatos) e ao futuro (transmitindo mensagens às novas gerações). JELIN, Elizabeth; LANGLAND, Victoria (comps.). Op, cit., p. 4.

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