Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

104 Paoli e a Córsega na Era das Revoluções. Múltiplas perspectivas para a historiografia revolucionária Napoleão estudou na escola militar de Brienne, no Norte da França. Apesar das provocações que sofreu devido ao seu sotaque e aparência, seu destino ficou irrevogavelmente ligado à história revolucionária. É interessante notar que, em seus escritos de juventude, como as Lettres sur la Corse, Napoleão retratava Paoli com a grandeza dos heróis de Plutarco. Trinta anos após a falha da Revolução Corsa, a Revolução Francesa reconheceu sua dívida com a Córsega: em 30 de novembro de 1789, a Assembleia Nacional incorporou a ilha ao território francês com os mesmos direitos das demais regiões.46 Em 1790, Paoli foi recebido em Paris, saudado por Mirabeau e Robespierre, e declarou que, unidas pela Revolução, as duas nações não precisavam mais buscar independência. Assim, “Paoli aderiu sem reservas à Revolução”47 em seu momento monárquico-constitucional, o que invalida a referida avaliação de Palmer. Durante a Revolução Francesa, Paoli não foi um contrarrevolucionário, mas um anglófilo antijacobino que defendia uma monarquia constitucional nos moldes ingleses. Sua oposição à família Bonaparte não se limitava apenas às divergências sobre os eventos franceses, mas também se enraizava em conflitos específicos da Córsega, como o antigo vínculo de Carlo Buonaparte com o conde de Marbeuf e os próprios erros cometidos por Napoleão em sua atuação na ilha. A guerra contra os ingleses exacerbou a desconfiança dos deputados franceses em relação a Paoli, uma oportunidade que os Bonaparte souberam explorar habilmente.48 De fato, assim como o jovem Napoleão foi empurrado para o campo jacobino mais por circunstâncias como a revolta federalista do que por convicções pessoais, Paoli foi rotulado de “contrarrevolucionário” não tanto por sua oposição às mudanças, mas por sua posição singular nos eventos revolucionários, que envolveu exílio e longos anos sob domínio francês. Após o fracasso do reino anglo-corso (1794-1796), Paoli retornou ao exílio e faleceu em Londres em 1807. Uma revolução mediterrânica? A análise de Palmer sobre a Córsega destaca a disputa entre democracia e aristocracia no contexto revolucionário. Colley, por sua vez, enfoca o impacto da Guerra dos Sete Anos, enquanto Bell explora a questão da liderança carismática e Martin examina o evento através da tradição republicana e das 46 CARVALHO, Daniel Gomes de. Revolução Francesa. São Paulo: Contexto, 2022. p. 29-30. 47 FILIPPI, Antoine-Baptiste. La Corse à l’avant-garde des révolutions libérales et nationales (17291804). Diplomatie, n. 108, p. 91-95, mar./abr. 2021. p. 95. 48 ZAMOYSKI, Adam. Napoleão: o homem por trás do mito. São Paulo: Planeta, 2020. . p. 71-84.

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