Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

107 Daniel Gomes de Carvalho manifesta na rivalidade entre Paoli e a família Bonaparte: vale lembrar que o clube jacobino da Córsega, ao qual Napoleão pertencia, estava localizado em Ajácio, destacando ainda mais a tensão entre a montanha e o litoral na dinâmica política da época. Longe de esgotar um assunto cuja complexidade transcende um texto de breves proporções, este estudo, utilizando o caso específico da Córsega, buscou explorar de forma sucinta as diversas perspectivas para a interpretação do período revolucionário, incluindo abordagens atlânticas, democrático-liberais, marxistas, globais e coloniais. Conclui-se destacando os aspectos mediterrânicos dos conflitos, o que adverte a respeito da importância da consideração geo-histórica e de longa duração na análise dos eventos dos séculos XVIII e XIX. O tempo das revoluções é caracterizado por uma consciência de ruptura, repleta de “declarações metafóricas que novamente desafiam as categorias de compreensão do mundo”.60 A leitura de longa duração, que contrasta com o que a própria época dizia sobre si, é essencial para uma compreensão crítica e historiográfica. Embora, como reconheceu Braudel61, Tocqueville tenha sido pioneiro nessa abordagem do ponto de vista da centralização e da democracia, uma análise geo-histórica compreensiva das revoluções ainda é um trabalho a ser realizado. Referências ARENDT, Hannah. Da Revolução. Brasília: Editora UnB, 1988. ARMITAGE, David. Três conceitos de história atlântica. História Unisinos, v. 18, n. 2, p. 206-217, 2014. BELL, David Aron. Men on Horseback: The Power of Charisma in the Age of Revolution. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2020. BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico. Lisboa: Martins Fontes, 1983. v. 1. BRAUDEL, Fernand. Prefácio. In: TOCQUEVILLE, Alexis de. Lembranças de 1848: as Jornadas Revolucionárias em Paris. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. CARVALHO, Daniel Gomes de. Revolução Francesa. São Paulo: Contexto, 2022. 60 MARTIN, Jean-Clément. La revolución francesa. Barcelona: Crítica, 2013. p. 21. 61 BRAUDEL, Fernand. Prefácio. In: TOCQUEVILLE, Alexis de. Lembranças de 1848: as Jornadas Revolucionárias em Paris. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 19-38.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz