110 As acelerações técnica e de mudança social na sociedade soviética: o campo aeroespacial, suas possibilidades e o cenário doméstico da URSS entre as décadas de 1950 e 19601 Gianfranco Caterina “Modernidade diz respeito a acelerar o tempo”.2 A citação de Peter Conrad lembrada por Hartmut Rosa sublinha o que o sociólogo alemão classifica como “a experiência fundamental da modernização”.3 São de particular interesse para minha agenda de pesquisa as duas primeiras “dimensões fundamentais da aceleração social” caracterizadas por Rosa: a aceleração técnica e intencional de processos visando um objetivo e a aceleração da mudança social, compreendida, sobretudo, na melhora de índices de transformação social (renda, moradia, assistência médica, maior proeminência de técnicos na sociedade, etc.). Ambas as dimensões dialogam diretamente com a autorrepresentação internacional da União Soviética a partir da ascensão de Nikita Khrushchev e ao longo do período em que liderou a URSS da segunda metade dos anos 1950 até 1964. Os êxitos com o lançamento do primeiro satélite artificial (Sputnik-1) em 1957 e os avanços científicos relacionados ao programa espacial (com o primeiro voo de um humano realizado por Yuri Gagarin em 1961) tiveram enorme repercussão internacional, de modo a despertar admiração, respeito e surpresa em todo o mundo. Avanços importantes na propulsão de foguetes, projeto e materiais possibilitaram avanços antes inimagináveis (ou que levariam décadas) em poucos anos. Após apenas dez anos de os norte- -americanos terem conseguido construir uma aeronave que havia atingido velocidade supersônica e voltado seguramente ao solo, a URSS lançou o Sput1 Agradeço ao Prof. Rafael Marquese pelos comentários e sugestões. 2 ROSA, Hartmut. Aceleração: a transformação das estruturas temporais na Modernidade. São Paulo: Unesp, 2019. p. 598. 3 Ibidem, p. 598. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-10
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