112 As acelerações técnica e de mudança social na sociedade soviética: o campo aeroespacial, suas possibilidades e o cenário doméstico da URSS entre as décadas de 1950 e 1960 Aceleração técnica: o transporte aéreo de passageiros entre 1945 e 1969 Rosa caracteriza como “a mais evidente e mais consequente” mostra da moderna aceleração a “intencional aceleração técnica e, sobretudo, tecnológica (ou seja, maquinal) de processos direcionados a um objetivo”.6 O mesmo autor caracteriza os processos de transporte, comunicação e produção (bens e serviços) como exemplos “paradigmáticos”.7 Sublinha ainda que essa forma de aceleração é “a mais simples de ser medida e verificada”.8 Segundo o sociólogo alemão, a história da aceleração e da velocidade de locomoção da sociedade pré-moderna até o presente é muito conhecida e documentada tendo origem em viagens a pé, depois a cavalo, passando por navios a vapor, trens, automóvel, avião e espaçonave – apesar de ele não mencionar que esse veículo não transporta pessoas de forma sistemática. Ele estima que no decorrer desse longo processo histórico, a velocidade máxima alcançada passou de aproximadamente 15 km/h para mais de 1.000 km/h – se considerarmos as viagens espaciais, por um fator por volta de 100.9 Rosa ressalta também que os limites das velocidades máximas de diversas formas de locomoção também aumentaram muito ao longo do tempo (automóveis, locomotivas, aviões e espaçonaves são exemplos claros).10 Para atestar a validade da tese de um “aumento da mobilidade e dinamicidade da sociedade”, mais importante do que as velocidades máximas, no entanto, seria a “elevação da média da velocidade de locomoção”.11 Sem entrar em detalhes nem fazer estimativas numéricas, Rosa afirma que a “medida mais exata possível para definir essa forma de aceleração social” seria estabelecer “a quantidade de bens e pessoas que são movimentados por unidade de tempo e sua velocidade média de locomoção”.12 Os ganhos de velocidade no transporte estão na “raiz” da experiência moderna de “contração do espaço”.13 A experiência espacial, como argumenta Rosa, está intimamente ligada à duração temporal necessária para realizar sua transposição. Houve, dessa forma, ainda segundo o mesmo autor, uma “transformação da consciência espaço-temporal”, evidenciada sobretudo na “crescente desvinculação da percepção espacial em relação ao lugar e da per6 ROSA, Hartmut. Aceleração: a transformação das estruturas temporais na Modernidade. São Paulo: Unesp, 2019. p. 141, 7 Ibidem, p. 141. 8 Ibidem, p. 141. 9 Ibidem, p. 141. 10 Ibidem, p. 141-142. 11 Ibidem, p. 142.. 12 Ibidem, p. 142.. 13 Ibidem, p. 142..
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