Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

113 Gianfranco Caterina cepção temporal em relação ao espaço”.14 Essa desvinculação, argumentamos, seria ainda mais crítica no transporte aéreo de passageiros – principalmente a partir da era do motor a jato (final dos anos 1950) –, já que com o aumento da velocidade e da altitude de cruzeiro das aeronaves, as referências visuais no solo se tornaram inexistentes ao longo da maior parte do voo.15 Calcula-se que, desde a Revolução Industrial, o mundo teria encolhido “para cerca de um sexto de seu tamanho original”.16 Ao mencionar Harvey (1990), entretanto, para exemplificar esse “encolhimento do espaço por meio da aceleração do transporte” desde cerca de 1500, Rosa deixa de destacar que essa aceleração ao longo de mais de 450 anos não foi, de maneira alguma, linear.17 Ou seja, se ao longo dos primeiros 430 anos, aproximadamente, tivemos um aumento de cerca de 6,5 vezes da velocidade (das embarcações à vela às locomotivas a vapor; 16km/h para 104km/h), do imediato pós-Segunda Guerra Mundial até o final da década de 1960 – com o rápido emprego em massa de motores turboélice e turbojato, além de avanços no conhecimento de aerodinâmica de alta velocidade e no emprego de materiais aeronáuticos –, tivemos, em menos de trinta anos, um incrível aumento de cerca de quatro vezes na velocidade de cruzeiro de aeronaves de transporte de passageiros. Na tabela abaixo, reunimos o tempo gasto (em média) para realizar uma viagem aérea de Londres a Nova York entre 1949 e 1977. Integramos no mesmo quadro, o tipo de aeronave (os exemplos são relativos a voos da British Airways), início das operações e velocidade de cruzeiro. Em relação ao transporte aéreo especificamente, percebe-se claramente um salto técnico durante esse período que engloba três avanços científicos impressionantes: pressurização da cabine de passageiros, adoção de motores a jato e viabilização de uma aeronave de transporte de passageiros supersônica. Os três avanços são inter-relacionados: a pressurização da cabine de passageiros possibilitou um aumento significativo na altitude de cruzeiro, otimizando o uso dos motores a jato em altitudes mais elevadas, nas quais o ar é mais rarefeito e o arrasto aerodinâmico é muito menor. Isso acarretou seguidos ganhos de eficiência e maior conforto aos passageiros. O último estágio desse avanço seria, por assim dizer, o emprego de uma aeronave supersônica. 14 ROSA, op. cit., p. 191; 194. 15 Ibidem, p. 195. 16 Ibidem, p. 143. 17 Ibidem, p. 195.

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