121 Karl Polanyi e a terra como mercadoria no Brasil (séculos XVI – XIX) Gustavo dos Santos Rey Saiz O estudo da terra no Brasil, tanto das relações sociais quanto das práticas agrícolas, é tema comum e recorrente na historiografia. Com o tempo, diversos autores foram sendo utilizados como referencial teórico para pensar estas questões. Neste texto, pretendo dialogar com a obra de Karl Polanyi para discutir o processo de mercantilização da terra no Brasil. Conhecido pelo conceito de economia embedded (normalmente traduzido como embutida, inserida, enraizada, incrustada), Polanyi oferece uma chave teórica para compreender o fenômeno da subordinação das relações sociais ao mercado dito autorregulado. Este texto está dividido em três partes. Na primeira, são apresentadas perspectivas gerais de Polanyi relativas ao mercado e a terra. Na segunda, o processo de mercantilização da terra no Brasil é analisado a partir das noções discutidas na primeira parte. Por fim, com base na análise da segunda parte, realizam-se algumas reflexões críticas sobre a obra de Polanyi tendo como referência a totalidade que envolvia colônias e metrópoles. I – Economia embedded e disembedded Segundo Polanyi, a economia – entendida aqui no seu sentido substantivo,1 ou seja, enquanto formas de subsistência e satisfação das necessidades humanas – ao longo de toda a história esteve submetida a outros aspectos que compõem o todo social, fosse a política, a religião, os costumes, etc. Assim, 1 Polanyi entende que há dois conceitos de economia, o “formal” e o “substantivo”. Aquele corresponde ao “caráter lógico da relação meios-fins, como em economizar ou conseguir algo a baixo preço; desse significado provém a definição de econômico pela escassez”, enquanto este “aponta para a realidade elementar de que os seres humanos, como quaisquer outros seres vivos, não podem existir sem um meio físico que os sustente” (POLANYI, Karl. A subsistência do homem e ensaios correlatos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. p. 63-84. “Os dois significados de econômico”). DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-11
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