130 Karl Polanyi e a terra como mercadoria no Brasil (séculos XVI – XIX) te.27 No entanto, essas reflexões não são internalizadas no fluxo do processo que é descrito; as menções ao espaço colonial são pontuais, exemplares, não são sistematicamente incluídas na explicação do mercado autorregulado. Com isso, o movimento geral que leva a essa forma de organização social parece ser capitaneado pela Inglaterra, ainda que haja indícios pontuais que questionem esta mesma perspectiva. Longe de pretender esgotar as interpretações e críticas à Polanyi, este texto buscou indicar uma análise do processo colonial a partir dos conceitos por ele desenvolvidos. A empreitada parece frutífera, de tal forma que, a partir dela, é possível inclusive lançar objeções ao próprio autor. Como toda análise, a de Polanyi não está isenta de limites e contradições. Talvez o grande mérito do autor esteja justamente em fornecer conceitos cuja empregabilidade situam-se para além de sua obra. Referências ABREU, Marcelo de Paiva; LAGO, Luiz Aranha Correa do; VILLELA, André Arruda. A passos lentos: uma história econômica do Brasil império. São Paulo: Edições 70, 2022. ALMEIDA, Candido Mendes de. Código Philippino ou Ordenações do Reino de Portugal. Rio de Janeiro: Typographia do Instituto Philomathico, 1870. ASSEMBLEIA GERAL DO IMPÉRIO DO BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Dispõe sobre as terras devolutas do Império. Rio de Janeiro: Assembleia Geral, 18 set. 1850 FERLINI, Vera. Terra, trabalho e poder: o mundo dos engenhos no Nordeste colonial. Bauru: EDUSC, 2003. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Documentos para a história do açúcar. Vol. 1: Legislação (1534-1596). Rio de Janeiro: Serviço Especial de Documentação Histórica, 1954. LEITE, Antonieta Reis. Urbanística e ordenamento do território na ocupação do Atlântico: as ilhas como laboratório. In: SERRÃO, José Vicente (org.). Property rights, land and territory in the European overseas empires. Lisboa: CEHC; ISCTE-IUL, 2014. p. 67-80. 27 Polanyi mostra como as relações de trabalho, nas colônias e na metrópole, foram “prévias do ‘trabalhador voluntário’”, isto é, “livre”. POLANYI, op. cit., 2021, p. 249.
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