Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

14 Um balanço pessoal sobre a primeira década do Lab-Mundi/USP (2013-2023) Enquanto se dava a pesquisa comTomich, Funes e Venegas, eu tocava paralelamente, aqui na USP, o segundo projeto coletivo, dentro de uma iniciativa igualmente ampla. Tratou-se do Temático Fapesp A fundação do Estado e da nação brasileiros, c.1750-1850, coordenado por István Jancsó entre 2003 e 2008. O início dele coincidiu com minha entrada como docente na USP. A agenda que propus para o Temático consistia em pesquisar a ideologia e a política da escravidão no Império do Brasil entre 1808 e 1850, por meio da imprensa periódica e dos debates parlamentares. Para tornar curta uma história que é longa, dessas atividades no Temático é que nasceram as pesquisas de IC, Mestrado e Doutorado de Tâmis Parron e Alain El Youssef, e a tese de doutorado de Ynaê Lopes dos Santos, todas elas desenvolvidas sob minha orientação, bem como o projeto que toquei de início com Márcia Berbel, e que depois incorporou Parron como parceiro de livro.2 Dentro do Temático, pude estreitar os laços de trabalho com João Paulo Pimenta, amigo dos tempos de graduação que se tornou colega da disciplina História do Brasil Colonial no Departamento de História no segundo semestre de 2004. O projeto sobre a política da escravidão no Brasil e em Cuba, se bem que modulado pela perspectiva analítica contida no conceito de Segunda Escravidão e pelo trabalho prévio de Márcia Berbel no trato das experiências constitucionais ibéricas, teve também uma marca clara da tese de doutorado de Pimenta, defendida em janeiro de 2004.3 Afinal, o que procuramos fazer no livro sobre Brasil e Cuba foi um exercício muito próximo ao que João Paulo havia feito em seu trabalho, qual seja, examinar como eventos ocorridos no Império espanhol e no Império português condicionaram-se mutuamente dentro do processo mais amplo de quebra das estruturas do colonialismo europeu nas Américas. Um dos resultados parciais de minha pesquisa para o Temático Fapesp, uma verticalização nas leituras de Francisco de Arango y Parreño – o mais importante ideólogo da ordem escravista-colonial cubana na virada do século XVIII para o XIX – sobre a experiência brasileira, foi diretamente inspirado pela tese de meu amigo e colega.4 Em algum momento de 2008 ou 2009, cheguei a discutir esse texto com o grupo de estudos que João Paulo mantinha com seus orientandos. Dentro do Departamento de História, eu vinha de uma boa, porém curta 2 Para além das dissertações e teses de Parron, Youssef e Santos, o principal resultado dessa colaboração dentro do Temático foi o livro escrito por Márcia Berbel, Rafael Marquese e Tâmis Parron: BERBEL, Márcia; MARQUESE, Rafael; PARRON, Tâmis. Escravidão e Política. Brasil e Cuba, 1790-1850. São Paulo: Hucitec-Fapesp, 2010. 3 Para a versão em livro, ver PIMENTA, João Paulo G. A Independência do Brasil e a experiência hispano-americana (1808-1822). São Paulo: Hucitec, 2015. 4 MARQUESE, Rafael de Bivar. Comparando impérios: o lugar do Brasil no projeto escravista de Francisco de Arango y Parreño. In: GONZÁLEZ-RIPOLL, Maria Dolores; CUARTERO, Izáskún Álvarez (org.). Francisco Arango y la invención de la Cuba azucarera. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2009. p. 67-84.

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