143 Joao Gabriel Covolan Silva meira vez em 1967. Aqui, o autor descreve os anseios toscanos de estabelecer comércio regular com o Brasil e com as Índias Orientais “através de navios estrangeiros, quer dizer não portugueses, nem espanhóis, e nem necessariamente toscanos, os quais iriam diretamente a Liorne, carregados de mercadorias, principalmente açúcar e pau-brasil [...]”. Outros pontos destacados são a ambição toscana de ver instalados em seus domínios as refinarias de açúcar, que tanto prosperavam em Flandres e Veneza, a expedição chefiada pelo inglês Robert Thornton ao rio Amazonas, no início do século XVII, e mesmo projetos coloniais, como o respeitante à capitania do Espírito Santo.2 Na historiografia italiana do século passado, algumas menções aos projetos expansionistas aparecem em trabalhos bastante sugestivos, como de Gino Guarnieri3 e de Roberto Ridolfi4. Mas vale menção mais detalhada, dentre estes exemplos, ao livro de Cesare Ciano, I Primi Medici e il Mare. Ciano aborda não apenas a transformação estrutural de Livorno na segunda metade do século XVI, como também a política comercial dos grão-duques, relacionando-a com a difusão de agentes e representantes em diversos países europeus visando não apenas obter informações que pudessem ajudar a fomentar o comércio, mas também informações sobre localidades ultramarinas que pudessem projetar uma empreitada colonial. As obras de geografia e relatos sobre o mundo extraeuropeu somam-se ao uso político da tradição toscana de enviar os jovens comerciantes a se instruírem em centros mercantis importantes; seus os relatos, a partir de então, ajudaram a fomentavam ambições expansionistas. Exemplares são os casos de Orazio della Rena, que de acordo com Ferdinando I em uma missiva enviava notícias sobre as riquezas da Nova Espanha e das Índias em geral, “estando nós curiosíssimos por todas as coisas”; ou o de Baccio da Filicaia, que residira no Brasil entre 1596 e 1607 e fora figura próxima dos governadores Francisco de Souza e Diogo Botelho.5 Digno de nota em Ciano é a menção ao crescente interesse toscano no trato negreiro, e o fato de que os sucessores de Ferdinando I também projetaram expansões ultramarinas, embora sem efetivá-las.6 Mais recentemente, o tema foi abordado por Alírio Cardoso e pelo norte-americano Brian Brege. Cardoso em seu artigo enquadra os intentos mercantis e coloniais toscanos dentro de suas relações com o poderio ibé2 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Os projetos de colonização e comércio toscanos no Brasil ao tempo do grão-duque Fernando I (1587-1609). Revista de História (USP), n. 142-143, p. 95-122, 2000. 3 GUARNIERI, Giuseppe Gino. Un’Audace Impresa Marittima di Ferdinando I dei Medici: contributo alla storia della marina mercantile italiana. Pisa: Arti Grafiche Nistri-Lichi, 1928. 4 RIDOLFI, Roberto. Pensieri medicei di colonizzazione nel Brasile. Il Vetro. Rivista della Civiltà Italiana, v. 6, n. 4, p. 705-720, 1962. 5 CIANO, Cesare. I Primi Medici e il Mare: note sulla politica marinara toscana da Cosimo I a Ferdinando I. Pisa: Pacini Editore, 1980. p. 166-167. 6 Ibidem, p. 168-171.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz