Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

144 Comércio, informações e diplomacia: o grão-ducado da Toscana e o império português no Atlântico (1580-1640), breves apontamentos historiográficos e metodológicos rico, que dizia respeito não apenas aos direitos de navegação no ultramar, mas também acerca da soberania na Itália. Os objetivos, que eram a busca de metais preciosos e outras mercadorias, bem como o estabelecimento de rotas comerciais, foram frutos seja de uma política de Estado orientada pelo grão-duque, seja pela comunidade mercantil de Livorno.7 Já Brege reconstrói a presença toscana nos empreendimentos da Coroa de Portugal desde a ida do comerciante Luca Giraldi a Lisboa, em 1515, que entraria em breve no comércio da ilha da Madeira (1527-9), tornando-se inclusive fidalgo ainda no reinado de D. João III (r.1521-1557); a correspondência de seu filho, Francisco Giraldes, com o grão-duque; a mudança do Estado grão-ducal, que de um posicionamento introspectivo passara a tecer projetos imperiais; e, o que é mais significativo, a rede de embaixadores, comerciantes e informantes na Península Ibérica que faziam chegar ao Grão-Ducado informações respeitantes ao Atlântico português.8 9 Por fim, a historiografia sobre os cristãos-novos e judeus portugueses na Toscana também revela aspectos de grande importância para o estudo do comércio e para a circulação de informações sobre Brasil, em especial em Pisa e Livorno. Merecem destaque os estudos de Giuseppe Marcocci10 e Lucia Frattarelli Fischer11. O livro desta historiadora italiana nos dá elementos para compreender a amplitude da diáspora em terras toscanas após os decretos de 1591-3 denominados Livornine, bem como a complexidade dos mecanismos de inserção de muitos cristãos-novos e judeus, sua relação com outros grupos étnicos, e o alcance de suas redes mercantis, que em muitos casos envolvia importações de produtos brasileiros, sobretudo pau-brasil e açúcar. Mais recentemente, também Francisco Bethencourt iluminou de modo detalhado a trajetória de alguns cristãos-novos em seu livro Strangers Within. Dentre estes indivíduos, podemos citar Niccolò Ximenes, membro da poderosa família Ximenes de Aragão, que em fins do século XVI estendeu suas atividades 7 CARDOSO, Alírio. “Un Piccolo Pataccio al Rio dell’Amazzoni”: pirataria europeia e projetos italianos na Amazônia na época da monarquia hispânica”. Revista de História (USP), n. 170, p. 175-199, jan./jun. 2014. 8 Sobre a família Giraldi em específico, ver os trabalhos de Virgínia Rau (RAU, Virginia. Um grande mercador-banqueiro italiano em Portugal: Lucas Giraldi. Lisboa: Estudos Italianos em Portugal, 1965) e Nunziatella Alessandrini (ALESSANDRINI, Nunziatella. Contributo alla storia della famiglia Giraldi, mercanti banchieri fiorentini alla corte di Lisbona nel XVI secolo. Storia Economica, ano 14, n. 3, p. 377-407, 2011). 9 BREGE, Brian. Renaissance Florentines in the Tropics: Brazil, the Grand Duchy of Tuscany, and the Limits of Empire. In: HORODOWICH, Elizabeth; MARKEY, Lia (org.). The New World in Early Modern Italy, 1492-1750. Cambridge; Londres: Harvard University Press, 2017. 10 MARCOCCI, Giuseppe. Itinerari marrani. I portoghesi a Livorno nei secoli dell’età moderna. In: PROSPERI, Adriano (org.). Livorno, 1606-1806: luogo di incontro di popoli e cultura. Turim: Allemandi, 2009. 11 FRATTARELLI FISCHER, Lucia. Vivere Fuori dal Ghetto: ebrei a Pisa e a Livorno (secoli XVI-XVIII). Turim: Silvio Zamorani, 2008.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz