145 Joao Gabriel Covolan Silva na Toscana a partir do estabelecimento de seu tio Fernando Ximenes em Florença. Seguindo os passos do tio, Niccolò imigrara para a Toscana desde Antuérpia, casara-se com uma filha da aristocracia local, Maria Antinori, e tornara-se senatore. O que nos interessa de sua trajetória especificamente são suas múltiplas transações comerciais, que envolvia a importação de pau-brasil e de açúcar brasileiro desde Lisboa, e, como demonstrou Bethencourt, Niccolò chegou inclusive a herdar uma propriedade fundiária no Brasil no início do século XVII, como consta de seu livro contábil.12 Contudo, apesar da riqueza de dados que podem ser trabalhados a partir do presente estado da arte na historiografia ou do andamento de nossa pesquisa em arquivos e bibliotecas, para esta ocasião acreditamos ser importante mencionar alguns pressupostos de caráter metodológico para a inserção da análise destas redes mercantis e do fluxo de informações, seguida de uma elucidação acerca das principais tipologias documentais para tal estudo. Isto porque a abordagem de redes mercantis e de fluxo de informações sem um tratamento metodológico pode fazer com que se caia no vazio, com uma abordagem puramente descritiva e sem um problema de fundo. Pressupostos teóricos para a abordagem das redes mercantis e fluxos de notícias: uma síntese No primeiro aspecto, acreditamos ser essencial seguir premissas que foram recentemente apresentadas por João Paulo Pimenta no tocante aos espaços-tempo dos impérios ibéricos entre os séculos XV-XIX. Nos diz este historiador que “A premissa de que toda sociedade encontra-se estruturada por uma pluralidade de tempos simultâneos, dinâmicos e assimétricos – pois estabelecem hierarquias entre si – pode e deve ser estendida ao espaço: não há realidade social que não enseje também uma pluralidade de espaços”.13 A assimetria dentre estes espaços pode ficar de lado quando se busca enfatizar a mundialização levada adiante por portugueses e espanhóis, bem como a pluralidade de pontos de vista, mas sem uma análise qualitativa destes mesmos espaços. Tomemos um exemplo tido como modelar para se pensar o caso, mas onde não são claras as distinções qualitativas que caracterizem as diferenças entre os espaços. 12 BETHENCOURT, Francisco. Strangers Within: The Rise and Fall of the New Christian Trading Elite. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2024. 13 PIMENTA, João Paulo. Pensar e conceber a distância: uma reflexão acerca dos espaços tempo dos impérios ibéricos (séculos XV-XIX). In: GAUDIN, Guillaume; STUMPF, Roberta (dir.). Las Distancias en el Gobierno de los Imperios Ibéricos: concepciones, experiencias y vínculos. Madri: Casa de Velázquez, 2022.
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