149 Joao Gabriel Covolan Silva norte-africana. Em assertiva que pode ser aplicada às dinâmicas que buscamos estudar, embora voltada ao século XX, nos diz o geógrafo David Harvey que [...] a capacidade de influenciar a produção de espaço é um importante meio de aumento do poder social. Em termos materiais, isso significa que quem pode afetar a distribuição espacial de investimentos em transportes e comunicações e em infraestruturas físicas e sociais, ou a distribuição territorial de forças administrativas, políticas e econômicas, pode muitas vezes obter recompensas materiais.25 É justamente o propósito de influenciar a produção do espaço, como meio de aumento do poder social, um dos pressupostos que está na base dos intentos expansionistas toscanos. Fenômeno que se dá por conta dos reflexos da influência inglesa, holandesa e hispânica no Mediterrâneo e dos reinos ibéricos na América, onde está em curso no momento um processo de europeização – afirmação que não implica a adoção de um posicionamento eurocêntrico, mas sim que busca reafirmar que o processo implica a inserção deste continente dentro de um sistema de colonização, de uma forma específica de ocupação e valorização. Trata-se de um “alargamento do espaço humanizado”, para dentro da lógica da economia-mundo europeia. Assim, “É, pois, a partir das coordenadas da estrutura socioeconômica da época, a partir das relações dos homens entre si e não dos homens com a natureza”26 – embora tenha a natureza grande importância –, que podemos pensar as relações e fluxos que ligam, por exemplo, a Toscana à América portuguesa. Tipologias documentais: uma aproximação Para tal estudo, acreditamos que as fontes a serem utilizadas são sobretudo de três tipos: os relatos de viajantes, as correspondências diplomáticas e dos agentes toscanos com os grão-duques, e a documentação das instâncias responsáveis pela administração e regulação mercantil das cidades de Pisa e Livorno. Sobre os viajantes, há uma ampla gama de correspondências publicadas ou facilmente encontradas em arquivos toscanos; usaremos aqui um breve exemplo, já conhecido pela historiografia. Trata-se de Filippo Sassetti, que estivera em Lisboa na década de 1570 e depois viajara à Ásia com os portugueses. Nas missivas de Sassetti, remetidas à importantes figuras – comerciantes, 25 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1992. 26 NOVAIS, op. cit., p. 26-27.
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