151 Joao Gabriel Covolan Silva ciardini que buscasse modos para se trazer açúcar diretamente ao porto de Livorno, sem passar pelos portos ibéricos, para se aproveitar das dificuldades dos venezianos – principais detentores de refinarias na Itália – e incentivar suas instalações nas cidades toscanas. Outro motivo para se fugir dos portos ibéricos era o “perigo” diante das escaramuças da monarquia hispânica com a Inglaterra e as Províncias Unidas, o que poderia fazer com que os comerciantes perdessem o capital investido.30 Por fim, mencionaremos um exemplo respeitante às atividades de cristãos-novos, cujas informações abundam sobretudo no fundo Consoli del Mare, presente no Archivio di Stato di Pisa, e no fundo Mediceo del Principato, do arquivo florentino. Os Consoli del Mare foram parte de uma magistratura encarregada de administrar a conduta dos comerciantes de Pisa, bem como tudo que dissesse respeito com o mar: a construção de embarcações, vigilância do trânsito de pessoas, e o estabelecimento de relações com comerciantes estabelecidos em outros países, cuja existência data ainda do período em que Pisa era um cidade-Estado independente.31 E justamente neste fundo documental encontramos registros da atividade mercantil do cristão-novo português Duarte Dias de produtos oriundos do Brasil, desde 1597 até 1613. Duarte Dias pertencia à família Dias, cujo primeiro membro a chegar em Pisa fora seu avô, Jerônimo Dias, em 1548. A família obtivera sucesso em terras toscanas e, no fim do século XVI, há registros de apenas dois membros da família que ainda residiam em Portugal, primos de Duarte. Apesar dos fortes laços com o comércio ultramarino, o membro mais influente da família foi o acadêmico Damiano Dias, professor da Universidade de Pisa e investidor nos bancos Ricciardi e Salviati de Florença. No ramo mercantil da família, sabe-se que na última década de Quinhentos Duarte se tornou responsável pela maior parte das transações, que dentro da Itália também englobavam Veneza e Roma.32 Durante o período em que esteve envolvido na importação de produtos da América portuguesa, sobretudo de açúcar, Duarte Dias esteve associado com Rui Teixeira, comerciante cristão-novo que residira no Brasil e chegara a ser denunciado durante a Primeira Visitação Inquisitorial33 e representou em querelas mercantis os comerciantes Miguel Paz e Jerônimo Rodrigues de Sousa, que residiam em Amsterdam e importavam açúcar brasileiro para a Euro- 30 Archivio di Stato di Firenze, Mediceo del Principato (ASFi, MP). f. 580, f. 1145r. 31 CIANETTI, Nadia. I Consoli del Mare di Pisa nella Prima Metà del ‘600. Tesi di Laurea, Universidade de Pisa, 1984. 32 FRATTARELLI FISCHER, Lucia. Vivere Fuori dal Ghetto: ebrei a Pisa e a Livorno (secoli XVI-XVIII). Turim: Silvio Zamorani, 2008. p. 79-77. 33 NOVOA, James Nelson. A Family of the Nação from the Atlantic to the Mediterranean and Beyond (1497-1640). In: KAPLAN, Yosef. Religious Changes and Cultural Transformations in the Early Modern Western Sephardi Communities. Boston; Leiden: Brill, 2019.
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