Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

152 Comércio, informações e diplomacia: o grão-ducado da Toscana e o império português no Atlântico (1580-1640), breves apontamentos historiográficos e metodológicos pa.34 O eixo da atividade, porém, era Lisboa, a partir de onde boa parte do açúcar desembarcado em Livorno para Duarte Dias era carregado.35 Não obstante, fica claro o crescente papel de embarcações inglesas e holandeses neste trato que ligava a Península Ibérica e a Toscana, seja por conta do custo dos fretes e pela maior capacidade defensiva de embarcações holandesas e ingleses em um Mediterrâneo tomado pelo corso, seja pela atuação – sobretudo no caso holandês – de cristãos-novos no Norte da Europa. Como demonstrou Daniel Swetschinski, ao analisar os fretes entre 1596 e 1616 de cristãos-novos e judeus portugueses em Amsterdam, Livorno era o segundo porto não-português com a maior incidência de fretamentos de embarcações holandesas, ficando atrás apenas de Hamburgo.36 Estas fontes, portanto, podem ser interpretadas como um ponto de partida para compreensão de aspectos amplos, que perpassam a religião e a identidade de muitos cristãos-novos e judeus, bem como, em nosso caso, o alcance dessas redes mercantis durante um período de mudança do equilíbrio de forças dentro do continente europeu em que a Toscana teve uma parte importante. Conclusão Esperamos que este breve texto possa ter esclarecido alguns pressupostos metodológicos que adotamos em nosso trabalho, bem como as tipologias documentais que, até o presente momento, mais nos tem revelado a importância destes vínculos comerciais e dos planos de expansão ultramarina que foram aventados na Toscana em inícios do século XVII. Não buscamos de modo algum afirmar que outras perspectivas sejam prescindíveis, mas esclarecer que a busca de projeção de poder – econômico e político – por meio da expansão colonial, fomentando redes e a circulação de indivíduos e bens, necessita de pressupostos conceituais e de um enquadramento teórico que impeçam uma abordagem simétrica destes espaços. A projeção de simetria ao que é caracterizado pela sua assimetria, a reificação de conexões plurais sem um tratamento conceitual, pode desembocar em uma abordagem que elimina aspectos qualitativos da própria pluralidade que se busca enfatizar, impedindo uma compreensão holística das dinâmicas econômicas e políticas do passado. 34 Notarial Records Related to the Portuguese Jews in Amsterdam up to 1639. Studia Rosenthaliana, v. 6, n. 2, 1972. p. 233. 35 Archivio di Stato di Pisa, Consoli del Mare (ASPi, Consoli del Mare), f.968, 969, 970. 36 SWETSCHINSKI, Daniel M. Reluctant Cosmopolitans: The Portuguese Jews of Seventeenth-Century Amsterdam. Oxford; Portland, OR: The Littman Library of Jewish Civilization, 2000. p. 327.

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