156 Vivências e experiências: uma nota acerca dos tempos da história e suas hierarquias João Paulo Pimenta Em determinada passagem do capítulo 2 de seu livro, dedicado à caracterização de uma fenomenologia da aceleração – ou, se preferirmos um enunciado mais simples, da forma como indivíduos em sociedade sentem a aceleração de tempo, - Hartmut Rosa evoca a obra de Walter Benjamin1 para discutir a diferença entre vivência e experiência. Segundo Rosa: Benjamin diagnostica uma progressiva perda de experiência na sociedade moderna, que resulta da incapacidade dos sujeitos em transformar as inúmeras vivências [...] traumáticas do cotidiano [...] em experiência [...] genuína. Experiência é, para Benjamin, algo inextricavelmente ligado à agregação do vivido à história experienciada e à tradição vivida, ela surge através de uma apropriação do vivenciado com o auxílio dos padrões narrativos estáveis fixados na memória e à luz dos horizontes de expectativa historicamente firmados. Assim, vivências só podem se tornar experiência se puderem ser relacionadas de forma significativa a um passado e a um futuro individual e coletivo. Experiências genuínas, como se pode inferir a partir disso, adentram a identidade dos sujeitos, em sua história de vida; seus rastros na memória são amplamente resistentes à erosão. Elas se tornam impossíveis, no entanto, em um mundo no qual horizontes de expectativa se transformam permanentemente e no qual espaços de experiência são continuamente reconstruídos. Direcionando essa passagem para o reforço de sua própria teoria da aceleração social, Rosa conclui: 1 Mais precisamente três textos: “Sobre alguns temas em Baudelaire”, “Parque Central” (ambos em: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Trad. José Martins Barbosa e Hemerson Alves Batista. São Paulo: Brasiliense, 1989), e “Sobre o conceito de história” (BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2012). Tal relação poderia ser completada com “Experiência e pobreza” (Ibidem). DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-14
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