167 Kelly Eleutério Machado Oliveira No Brasil, a atitude do imperador agudizou a crise política na qual estava imerso. Acusado de absolutista, de ambicioso e de envolver fundos numa guerra alheia aos interesses do Império do Brasil, d. Pedro viu crescer a oposição ao seu governo, o que, no limite, forçou a sua abdicação em 1831. Sendo assim, longe de se restringir ao reino, o conflito em Portugal ganhou, na análise dos historiadores portugueses Paulo Fernandes e Pedro de Almeida9, contornos internacionais. Foi durante os levantes miguelistas contrários à Carta Constitucional que, em finais de 1826, formou-se o Batalhão de Voluntários Acadêmicos de Coimbra. Ao contrário do que afirmou Rui Cascão10, a atuação do Corpo estudantil, ainda que ideológica, não foi de longe unicamente simbólica. Com armas nas mãos, os estudantes, amparados em um princípio que Ana Cristina Araújo11 chamou de “patriotismo acadêmico”, tiveram um papel importante na luta contra as guerrilhas miguelistas empenhadas na supressão da Carta Constitucional e na defesa d. Miguel. Contribuíram para a vitória, momentânea, das forças liberais nos anos de 1826 e 1827.12 Não era a primeira vez, e nem seria a última13, que um Batalhão chamado “de Voluntários Acadêmicos de Coimbra” se reunia. O Corpo reunido em 1826 era herdeiro de um ativismo político que remontava à guerra contra as tropas francesas comandadas por Junot quando se formou o primeiro Batalhão Acadêmico. O Corpo de 1808, que reuniu mais de 700 estudantes, incluindo também professores, atuou na defesa do território, no policiamento e no desenvolvimento de uma imprensa combativa a exemplo do jornal A Minerva Lusitana (1808-1811). Em 1826, alistaram-se no Batalhão dos Acadêmicos de Coimbra 411 estudantes, em sua grande maioria portugueses. A eles se juntaram 42 brasileiros, provenientes das províncias do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão. Com exceção de três 9 FERNANDES; Paulo Jorge; ALMEIDA, Pedro Tavares. A Carta Constitucional outorgada em 1826. In: ALMEIDA, Pedro Tavares (dir.). O parlamento português. Vol. 1: Antigo regime e monarquia constitucional. Lisboa: Assembleia da República, 2023. 10 CASCÃO, Rui. A revolta de maio de 1828 na Comarca de Coimbra. Contribuição para uma sociologia da Revolução Liberal. Revista de História das Ideias, n. 7, p. 111-153, 1985. Disponível em: https:// www.academia.edu/69535565/A_revolta_de_Maio_de_1828_na_comarca_de_Coimbra_contribui%C 3%A7%C3%A3o_para_uma_sociologia_da_revolu%C3%A7%C3%A3o_liberal. Acesso em: 10 maio 2023. 11 ARAÚJO, Ana Cristina. A legião de Minerva e o patriotismo acadêmico. In: ARAÚJO, Ana Cristina. Resistência patriótica e Revolução Liberal (1808-1820). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2022. p. 181-216. 12 VALENTE, Vasco Pulido. Os levantamentos «miguelistas» contra a Carta Constitucional (18261827). Análise Social, v. 30, n. 133, p. 631-651, 1995. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/41011111. Acesso em: 11 ago. 2023. 13 SERRÃO, Joel. Batalhões Acadêmicos. Dicionário de História de Portugal. Lisboa: Oficinas Gráficas de Ramos, Afonso e Moita, 1963. v. 1.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz