168 As conexões entre Brasil e Portugal no contexto dos levantes e da contrarrevolução miguelistas: o caso do Batalhão dos Voluntários Acadêmicos de Coimbra (1826-1828) estudantes cujas informações não conseguimos localizar (Antônio Pimentel, José Alves da Silva e José Pedroso d’Albuquerque), vinte e quatro, dos trinta e nove listados, se matricularam em Coimbra no contexto das guerras de independência no Brasil entre os anos de 1822 e 1824. A grande maioria deles, dezessete, era natural da capitania/província da Bahia destacando-se, ainda, as matrículas no curso de Direito. Eram os jovens estudantes que comporiam em breve os quadros da elite política imperial brasileira, uma elite coimbrã como a descreveu José Murilo de Carvalho.14 Não se tratava, contudo, de um grupo social homogêneo. O perfil dos estudantes variava: alguns, a exemplo do pernambucano Estevão Xavier da Cunha, tiveram sua estadia na Universidade de Coimbra subsidiada por pensão; outros eram membros de famílias abastadas. Esse era o caso do baiano Francisco Gonçalves Martins cuja fortuna se assentava no altamente lucrativo negócio do tráfico de escravizados. Socialmente distintos, a experiência no Batalhão Acadêmico os reuniu. O Batalhão Acadêmico foi novamente convocado em maio de 1828 já durante a eclosão da Revolução Liberal do Porto. O cenário era bastante distinto daquele de 1826. Não se tratava mais de boatos de que d. Miguel seria aclamado rei absoluto; o golpe estava sendo concertado numa aliança entre o “trono e o altar”, sem desconsiderar a adesão dos setores populares da sociedade que, a essa altura, já era bastante significativa como discutido por Maria Alexandre Lousada.15 Para além do Batalhão de Voluntários Acadêmicos de Coimbra, é importante mencionar que a Junta do Porto conseguiu reunir, segundo Antônio Cardoso16, 28 Batalhões dos Voluntários de d. Pedro IV e de d. Maria II em diversas comarcas; logo, como se vê, os batalhões de voluntários foram, sem dúvida, importantes aliados do Exército Constitucional funcionando ainda como forças contraguerrilhas.17 O insucesso da Revolução de 1828 consolidou a usurpação do trono por d. Miguel e obrigou o Exército Constitucional e os voluntários, entre os quais se incluíam os Voluntários Acadêmicos de Coimbra, ao deslocamento forçado para à Espanha, à Inglaterra, à França, à Bélgica, à Ilha Terceira e ao Brasil. 14 CARVALHO, José Murilo (org.). A construção da ordem / Teatro de sombras. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2008. 15 LOUSADA, Maria Alexandre. Entre tradição e modernidade: a cultura política contrarrevolucionária em Portugal, 1820-1834. In: PEREIRA, Miriam Halpern et al. A Revolução de 1820. Leituras e Impactos. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2022. p. 195-214. 16 CARDOSO, Antônio Manuel Monteiro. A revolução liberal em Trás-os-Montes (1820-1834). Povo e elite. Porto: Afrontamento, 2007. 17 É importante ressaltar que d. Miguel também criou, em 1828, os Batalhões de Voluntários Realistas. Inspirados no modelo espanhol, esses Batalhões serviram como “polícia” miguelista em âmbito local reforçando a natureza violenta do regime. Sobre os Batalhões de Voluntários Realistas na Espanha ver: RÚJULA, Pedro. Contrarrevolución, Realismo y Carlismo en Aragón y el Maestrazgo, 1820-1840. Zaragoza: Prensas Universitarias, 1998.
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