Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

17 Rafael de Bivar Marquese ainda mais esta referência em minhas pesquisas: ele havia sido pesquisador vinculado ao FBC desde sua fundação em 1976, e em 2008 eu passara a fazer parte do Conselho Editorial da Review do FBC. A escolha do nome foi, assim, consensual: Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial, ou simplesmente Lab-Mundi. Após uma rápida pesquisa na internet, gelamos: há um laboratório com nome praticamente igual na Bahia! Porém, como LabMundo não é Lab-Mundi, bateu na trave e entrou. Teria sido possível adotar outra referência teórica comum para a fundação do novo laboratório. Nos anos de meu doutorado (1997-2001), li com afinco – por meio da tradução de Keith Tribe, uma referência historiográfica crucial para meu mestrado – os ensaios de Reinhart Koselleck sobre o tempo histórico e o cruzamento da história social com a história dos conceitos.6 João Paulo demonstrara, em seu mestrado defendido em janeiro de 1999, familiaridade com o Koselleck de Crítica e Crise, mas não com o do Futuro Passado. Ao ler e comentar sua dissertação em maio de 2000, com vistas às revisões para publicação em livro,7 disse-lhe que o que ele estava fazendo afinava-se à perfeição ao Koselleck teórico da história. Nos anos seguintes, João Paulo mergulhou em um dos campos abertos pelo historiador alemão, ao se tornar um dos principais pesquisadores do enorme empreendimento intelectual que foi o IberConceptos. Mas, como nosso novo laboratório faria parte de uma rede de História Global e não de História dos Conceitos ou de Teoria da História, ficamos com o sistema-mundo. As atividades do Lab-Mundi começaram com a leitura compartilhada por professores, alunos de graduação, pós-graduação e pesquisadores de pós-doutorado dos quatro volumes do Moderno Sistema Mundial.8 Foi uma experiência intelectual riquíssima, que se prolongou por quase dois anos e que nos serviu para demarcar uma série de problemas teóricos, metodológicos e historiográficos que, em meio a naturais e salutares divergências, iriam guiar nosso trabalho coletivo nos passos seguintes. Logo no início dessas leituras, Sven Beckert convidou-me – quando voltamos a nos encontrar pessoalmente, agora nos Estados Unidos – para es6 TRIBE, Keith. Land, Labour, and Economic Discourse. London: Routledge, 1978; MARQUESE, Rafael de Bivar. Administração e escravidão. Ideias sobre a gestão da agricultura escravista brasileira. São Paulo: Hucitec, 1999. p. 102; R. Koselleck, Futures Past. On the Semantics of Historical Time. Translated by Keith Tribe. Cambridge, Ma: MIT Press, 1985. 7 Cf. PIMENTA, João Paulo G. Estado e Nação no fim dos Impérios Ibéricos no Prata (1808-1828). São Paulo: Hucitec, 2002. 8 WALLERSTEIN, Immanuel. The Modern World System I. Capitalist Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century. New York: Academic Press, 1974. Idem. The Modern World-System II. Mercantilism and the Consolidation of the European World-Economy, 1600-1750. New York: Academic Press, 1980. Idem. The Modern World-System III. The Second Era of Great Expansion of the Capitalist World-Economy, 1730-1840s. New York: Academic Press, 1989; Idem. The Modern World-System IV. Centrist Liberalism Triumphant, 1789-1914. Berkeley: California University Press, 2011.

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