172 As conexões entre Brasil e Portugal no contexto dos levantes e da contrarrevolução miguelistas: o caso do Batalhão dos Voluntários Acadêmicos de Coimbra (1826-1828) são servis como v, m, ces, nem todos são grimpas, que se movem com todos os ventos: quem é verdadeiro liberal não espera – corre logo em defesa da liberdade.28 Acreditamos que a “generosidade” de que fala Sátiro Mariano Leitão, tão grandiosa que seria capaz de “perdoar”, retoricamente, os “300 e tantos anos” de colonização, “as cicatrizes dos compatriotas da Bahia”, a perda de seu curso literário e de seus bens se amparava numa solidariedade que, ainda que percebesse o brasileiro como distinto do português, não se limitava a uma pátria. O que os unia era a defesa do liberalismo. Como dissemos, muitos historiadores, a exemplo de Maurízio Isabella29, já vêm apontando a existência de uma “internacional liberal” na Europa ou, nas palavras de Andréa Lisly Gonçalves30, uma “internacional antimiguelista” que reuniu adeptos na Espanha, no Brasil, na América Hispânica, na França, na Inglaterra, na Itália etc. No geral, defendiam um monarca que fosse capaz de garantir o regime constitucional detendo o avanço das forças contrarrevolucionárias e reacionárias. É baseado nisso que liberais portugueses e espanhóis no exílio, por exemplo, chegaram a considerar fazer de d. Pedro I Imperador da Ibéria. Apesar da referência a “meu imperador e seu rei”, com a qual Sátiro Mariano Leitão concluiu a sua carta, que, de resto, indica uma causa comum, a análise unicamente das missivas do estudante maranhense não nos permite afirmar que haveria ali um projeto claro de reunificação das coroas, Brasil e Portugal, e mesmo de um grande império que se estenderia à Espanha, ainda que ele possivelmente não os desconhecesse. O maranhense não regressou ao Brasil. Forçado a emigrar, vítima das forças contrarrevolucionárias de d. Miguel, teria morrido,31 no porão de um navio, em Plymouth. Considerações finais A participação do estudante brasileiro Sátiro Mariano Leitão na luta pela defesa do liberalismo em Portugal nos permite afirmar os fortes vínculos que ainda uniam Brasil e Portugal na segunda metade da década de 1820. Para 28 Biblioteca Nacional de Portugal. Duas palavras acerca da carta de José Fidelis da Boa Morte. Plymouth, 31 de dezembro de 1828, p. 7. 29 ISABELLA, op. cit. 30 GONÇALVES, Andréa Lisly. “Cidadãos teóricos de uma nação imprecisa”: a ação política de estrangeiros no reinado de d. Miguel, 1828-1834. Revista Tempo, v. 21 n. 38, p. 171-191, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tem/a/LXDqJJWWh7Kxfy3t7q5pp3s/abstract/?lang=pt. Acesso em: 8 jul. 2023. 31 É o que sugere algumas passagens dos poemas escritos pelos estudantes. Biblioteca Nacional de Portugal. Miscelânea. As noites do Barracão passadas pelos emigrados portugueses em Inglaterra em versos alexandrinos. Paris: Oficina de J. P. Aillaud, 1834, p.11 e p.21.
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