Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

173 Kelly Eleutério Machado Oliveira além das conexões transatlânticas, o estudo de suas cartas, escritas no exílio no sul da Inglaterra, nos permite lançar luz sobre o processo de construção do Estado, da nação e da identidade brasileiros. Tratou-se, como se sabe, de um processo violento capaz de reiterar a escravidão e dizimar milhares de indígenas. Um processo que também se fez baseado na construção da distinção entre portugueses e brasileiros. O trânsito, a transmigração e a circulação desses estudantes, desde suas cidades de origem até Coimbra e, posteriormente, o deslocamento imposto pelo exílio nos impõe uma abordagem dos processos em escala transnacional e transcontinental.32 A luta desses brasileiros na Europa contra as forças reacionárias de d. Miguel inseriu o Brasil nos quadros de uma “internacional liberal” revelando, ainda, os “múltiplos” pertencimentos de Sátiro Mariano leitão: maranhense, brasileiro e luso liberal. Assim, temos, de um lado, a permanência de vínculos, uma referência comum “luso liberal”, e, ao mesmo tempo, uma transformação incontornável: a distinção entre brasileiros e portugueses. Essa aparente ambiguidade é fruto do processo mais amplo de desagregação do império luso-brasileiro. O estudo do Batalhão dos Voluntários Acadêmicos de Coimbra formado na conjuntura acelerada dos anos de 1826 e 1828, um tema ainda muito pouco explorado pelas historiografias portuguesa e brasileira, é uma boa oportunidade para investigar uma página da história de Portugal com profundas conexões com a história do Brasil. De fato, a desagregação dos impérios ibéricos não foi marcada unicamente por rupturas, mas, também, por continuidades. E, como dissemos, a constituição do Batalhão Acadêmico foi uma dessas permanências, o que nos obriga, inclusive, a reconsiderar os próprios marcos cronológicos do processo de Independência (independências) do Brasil. Referências ARAÚJO, Ana Cristina. A legião de Minerva e o patriotismo acadêmico. In: ARAÚJO, Ana Cristina. Resistência patriótica e Revolução Liberal (1808-1820). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2022. p. 181-216. BROWN, Matthew; PAQUETTE, Gabriel. Connections after colonialism: Europe and Latin America in the 1820s. Alabama: The University of Alabama Press, 2013. 32 GRUZINSKI, Serge. Os mundos misturados da monarquia católica e outras connected histories. Topoi, Rio de Janeiro, p. 175-195, mar. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/topoi/a/SyxTynYw 6ZqQ6cQXYvyYYBj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 12 fev. 2023.

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