176 Experiências, expectativas e prognósticos na tentativa de inaugurar uma nova era para o sistema global do café: o multilateralismo nas Américas e a primeira Organização Internacional do Café (1953-1958) Leonardo F. Derenze1 Ao longo da pandemia de covid-19 em 2020-2021, além da vasta tragédia humana, sociedades no mundo inteiro encararam o aumento do preço de diversas mercadorias, entre elas o café, uma entre tantas derivadas de produtos primários, as chamadas commodities. No Brasil, o preço da embalagem regular de café aumentou em mais de 50%.2 Apesar das dinâmicas mais imediatas de um mercado internacional dolarizado, o fato do país que mais produz café no mundo desde meados do século XIX estar à mercê das variações globais de preço nos convida a buscar compreender que outros elementos se fazem presentes nesse processo histórico. Nesse sentido, algumas perguntas merecem ser exploradas através do fazer historiográfico, tais como: de que forma o atual sistema global do café se formou? Quais dinâmicas apontam para durações ou repetições históricas latentes na construção deste presente atual e de outros no passado? Houve tentativas de ruptura frente a continuidades mais proeminentes? Há, no passado da construção, reprodução e transformação do sistema global do café, manifestações de possíveis trajetórias históricas só parcialmente percorridas, ou abandonadas por completo?3 Para nos aproximarmos de possíveis respostas a tais indagações, uma das possibilidades é nos concentrarmos no período de refundação do multila1 Aluno do mestrado em História das Relações Internacionais, no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). Esta pesquisa contou com apoio de bolsa CAPES e bolsa Fapesp (processo 22/06317-5). E-mails: leonardo.derenze@usp.br ou leonardo.derenze@gmail.com. 2 VIECELI, Leonardo. Preços do café sobem mais de 50% e alteram consumo do brasileiro. Folha de S. Paulo, São Paulo, 21 fev. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/02/ precos-do-cafe-sobem-mais-de-50-e-alteram-consumo-do-brasileiro.shtml. Acesso em: 8 out. 2024. 3 Sobre o alerta para não “descartar como sem importância qualquer um dos caminhos [do passado] que foram só parcialmente percorridos, ou que não foram seguidos em absoluto”, veja ELLIOT, John H. History in the making. New Haveondon: Yale University Press, 2012. p. 217 (tradução livre do trecho). DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-16
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