177 Leonardo F. Derenze teralismo político-econômico que foi o pós-Segunda Guerra Mundial, particularmente a década de 1950. Nesse momento, bruscas variações impactaram o preço internacional do café. Em tal contexto histórico, as sociedades dos países que mais produziam e exportavam o produto, Brasil e Colômbia, junto a outros países cafeeiros na América Latina, buscaram criar mecanismos de governança política sobre esse comércio específico. Esse processo fez nascer iniciativas de curto prazo visando estabelecer cotas de exportação da commodity por cada país, o que estabilizaria o preço internacional e serviria de ferramenta de controle sobre o sistema caso o preço despencasse. Em seu ápice, esse multilateralismo do café nas Américas se expandiu internacionalmente, em particular quando da realização da Conferência Internacional do Café no início de 1958, no Rio de Janeiro. Nesse encontro de autoridades nacionais e imperiais, composto por representantes de Ásia, África e metrópoles coloniais da Europa, foi assinada a criação da Organização Internacional do Café (OIC). Entretanto, o que parecia uma virada estruturante na forma como o sistema global do café operava acabou, de fato, em notório fracasso. O esvaziamento de seus pretendidos poderes políticos fez da OIC uma iniciativa natimorta, arrastando os debates sobre a criação de um acordo e uma organização internacionais para o café até o ano de 1963, quando uma instituição homônima fora criada, com sede em Londres até os dias de hoje. Praticamente desconhecida na historiografia, a malograda trajetória até a criação da primeira OIC4 tem o potencial, contudo, de explicar as estruturas atuais de produção, comercialização e circulação da commodity, particularmente os potenciais e limites de agência das sociedades de países que estão na periferia da economia-mundo capitalista, e cujas economias nacionais muito dependiam, ou dependem, hoje, da produção e exportação de commodities. Tentaremos propor, neste texto, uma análise exploratória desse processo, através de uma perspectiva sistêmica e de valorização da pluralidade de tempos históricos. Assim, para superar o desafio de entender o imediato fracasso dessa empreitada, acreditamos que aplicar as categorias analíticas espaço de experiência e horizonte de expectativa de Reinhart Koselleck possa gerar novas e interessantes interpretações sobre o sistema global do café no pós-guerra. Manteremos sob exame as relações fundamentais entre o tempo curto da po4 Sobre o sistema global do café no período pós-1945, veja: BATES, Robert H. Open-economy politics: the political economy of the world coffee trade. Princeton: Princeton University Press, 1997. p. 90-92, p. 100-106 e p. 127-128; TOPIK, Steven. The integration of the world coffee market. In: CLARENCE-SMITH, William; TOPIK, Steven (org.). The global coffee economy in Africa, Asia, and Latin America, 1500-1989. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 21-49; TALBOT, John M. Grounds for agreement. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, 2004. p. 56-59; PENDERGRAST, Mark. Uncommon grounds: the history of coffee and how it transformed our world. New York: Basic Books, 1999. p. 235-262, 273-277. Para uma fonte que resume os acontecimentos mais relevantes desse multilateralismo do café nas Américas à época, veja Survey of the Brazilian economy, preparado no ano de 1960 pela embaixada brasileira emWashington, D.C., e disponível em: https://www.google. com.br/books/edition/Survey_of_the_Brazilian_Economy/bPadI5Wl3JcC?hl=pt-BR&gbpv=0.
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