Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

18 Um balanço pessoal sobre a primeira década do Lab-Mundi/USP (2013-2023) crever o capítulo relativo à América Latina e ao Caribe em uma obra coletiva sobre História Global que ele estava editando com Dominic Sachsenmaier. Beckert ainda não conhecia pessoalmente João Paulo. Propus escrever o texto em parceria com ele, como um meio para, de certo modo, definirmos uma carta básica de intenções historiográficas do Lab-Mundi. Apresentamos um primeiro rascunho em um seminário realizado com Beckert na USP em setembro de 2013, momento em que firmamos a parceria com seu grupo de Harvard. O texto foi finalizado no começo de 2014 e, no ano seguinte, publicado primeiramente em português. Esse artigo de balanço historiográfico tem um argumento central que é relativamente simples: o que é tomado como novidade historiográfica nas academias anglocêntricas do Norte Global não o é, se mirado pelo prisma da historiografia da América Latina e do Caribe. Afinal, nas obras dos autores marxistas locais, daqueles relacionados à Escola dos Annales e dos formuladores e dos críticos da teoria da dependência, sempre houve a preocupação em articular o que se passava localmente às forças mais amplas do capital e do colonialismo, de natureza necessariamente global. Para dizer de outra forma: a tomada de consciência de nossa condição periférica no curso da crise global dos anos 1930 nos levou desde cedo a olharmos para o mundo sem sermos paroquiais. Praticar a História Global na América Latina e no Caribe, portanto, exigiria necessariamente diálogo com as tradições historiográficas locais.9 Nos anos seguintes, o Lab-Mundi se sedimentou. Em março de 2016, promovemos uma grande conferência internacional no Departamento de História da USP, reunindo pela primeira vez todas as delegações das cinco instituições fundadoras da rede de História Global proposta por Beckert em 2013.10 Por meio de seminários pontuais ou conferências internacionais, iniciamos nossa interlocução com os professores Felipe Loureiro (do Instituto de Relações Internacionais da USP) e Alexandre Moreli (então na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro). Em 2018, com o ingresso de Moreli no corpo docente do IRI/USP, demos o passo decisivo para nossa atual configuração, quando o Lab-Mundi se tornou interinstitucional, reunindo na coordenação professores do DH e do IRI – um time que, a partir de 2022, foi reforçado por Rodrigo Goyena Soares, que havia feito pós-doutorado conosco entre 2018 e 2021. E foi também neste período pós-2015 que articulei de forma mais consistente minha pesquisa atual, diretamente informada pelo argumento do 9 MARQUESE, Rafael de Bivar; PIMENTA, João Paulo G. Tradições de História Global na América Latina e no Caribe. História da Historiografia, v. 17, p. 30-49, 2015. Em inglês, o texto foi publicado três anos depois (MARQUESE, Rafael de Bivar; PIMENTA, João Paulo G. Latin America and the Caribbean: Traditions of Global History. In: BECKERT, Sven; SACHSENMAIER, Dominic (org.). Global History, Globally. Research and Practice around the World. London: Bloomsbury, 2018. p. 67-82). 10 Ver a programação em https://labmundi.fflch.usp.br/seminario-internacional-scales-global-history (acesso em 22 de fevereiro de 2024).

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