Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

182 Experiências, expectativas e prognósticos na tentativa de inaugurar uma nova era para o sistema global do café: o multilateralismo nas Américas e a primeira Organização Internacional do Café (1953-1958) café, o exercício de uma perspectiva sistêmica que incorpore uma reflexão sobre a pluralidade de tempos nos permite buscar interpretações mais complexas para a construção, ou renovação, de ordens regionais e internacionais no pós-Segunda Guerra Mundial, bem como para a reprodução da economia-mundo capitalista desde então. Reavaliar e corrigir imprecisões sobre o peso da disputa Washington-Moscou para o multilateralismo cafeeiro12 abre a oportunidade de se investigar as dinâmicas dos mundos dessa commodity se atentando a processos de durações outras: a construção dos Estados-nacionais e suas bases econômicas, as oposições e complementariedades entre sociedades e espaços rurais e industriais, e os potenciais e limites apresentados pelo concerto político (nacional e internacional) em suas tentativas de se reformar ou transformar configurações estruturais. Por fim, de imediato, essas sensibilidades teórico-metodológicas oferecidas pela disciplina histórica podem proporcionar balizas que melhor indiquem as conexões entre a Organização Internacional do Café de 1958 e a criada em 1963, que foi responsável por operar o sistema global do café por cerca de três décadas. Fontes Arquivo Histórico do Ministério das Relações Exteriores (AHMRE), Brasília, Brasil Memo. de Marcio Rego Monteiro para Sr. Chefe da Divisão Econômica, Confidencial, DE/Dpo/661.333(00), “Formação de um cartel de café por iniciativa da Colômbia”, 14 de setembro de 1953, no maço “Memorandos Agôsto 1953/1954 Pareceres”. 12 Para o argumento de que a Revolução Cubana foi o momento de virada na decisão do governo dos Estados Unidos em participar de um acordo do café, veja TOPIK, op. cit., p. 46-47. Contudo, essa interpretação não leva em consideração a própria Conferência Internacional do Café em janeiro de 1958, no Brasil, tão pouco outras evidências que apontam para uma virada na posição de Washington ainda no primeiro semestre de 1958. Citamos, por exemplo, a mudança na posição do Council on Foreign Economic Policy (CFEP), um dos órgãos do Executivo estadunidense com maior voz e ressonância sobre as decisões do então presidente Eisenhower. Enquanto em abril de 1956 o CFEP defendeu que os Estados Unidos não deveriam participar de um acordo internacional para o café, em março de 1958 o órgão autorizou que o Departamento de Estado se engajasse nas discussões sobre a commodity. Veja, respectivamente, em: Council on Foreign Economic Policy, The White House, Washington, Confidential, 42nd Meeting, April 25, 1956 em Record Group (RG) 353 – Interdepartmental and Intradepartmental Committees, Series “Records Relating to the Council on Foreign Economic Policy, 1955-61” (Entry Num. P 4), Container 2, File Unit “CFEP – Agenda”, National Archives and Records Administration, College Park, MD, Estados Unidos (NARA, College Park, MD), e Department of State, Memo. of Conversation, Confidential, May 21, 1958, “CFEP Minute of May 20th Meeting, Item II (Re International Coffee Study Group) em RG 353, Series “Records Relating to the Council on Foreign Economic Policy, 1955-61” (Entry Num. P 4), Container 9, File Unit “U.S. Economic Defense Policy CFEP 566”, NARA, College Park, MD.

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