186 O Direito Natural e o Espectro Político Moderno: considerações sobre a temporalização e politização de uma linguagem1 Lucas Mohallem Em seus esforços para teorizar a Modernidade como um período historicamente distinguível, Reinhart Koselleck – uma das principais referências do arsenal teórico discutido pelo Lab-Mundi – sugere que duas de suas principais características seriam a temporalização e a politização do vocabulário político-social.2 Derivada de uma pesquisa sobre o papel da linguagem do Direito Natural na conformação de um espectro político moderno no Brasil durante o século XIX, a presente comunicação visa a um duplo objetivo: em primeiro lugar, busca deslindar as implicações teóricas e metodológicas que as hipóteses koselleckianas da temporalização e da politização trouxeram para o tratamento do objeto em questão; em segundo lugar, e invertendo o vetor que liga a teoria à empiria, busca requalificar o potencial heurístico dessas mesmas hipóteses a partir dos caminhos abertos por sua aplicação a uma rede semântica ainda pouco estudada pela História dos Conceitos – aquela do Direito Natural. Por temporalização, entende-se o processo por meio do qual o vocabulário disponível às sociedades ocidentais, até então encerrado dentro de uma concepção estática e reiterativa do tempo, em muitos sentidos tributária da cosmologia cristã, abre-se a um futuro incerto e imprevisível, daí infundindo-se de um “senso de expectação” e de um “coeficiente de mudança tem1 A presente comunicação consiste em um desdobramento da minha dissertação de Mestrado em História, intitulada Cairu e a Vertigem Revolucionária: Tempo, Linguagem e Epistemologia do Conservadorismo (1772-1831). Muitos dos pontos aqui apresentados consistem em derivações e readaptações das questões ali desenvolvidas originalmente. 2 Essas hipóteses foram originalmente enunciadas em: KOSELLECK, Reinhart. Introduction and Prefaces to the Geschichtliche Grundbegriffe: (Basic Concepts in History: A Historical Dictionary of Political and Social Language in Germany). Contributions to the History of Concepts, Trad. Michaela Richter. v. 6, n. 1, p. 1-37, 2011. Seriam mais tarde mobilizadas em: KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-RIO, 2006; KOSELLECK, Reinhart. Estratos do Tempo. Estudos Sobre Historia. 2. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014; KOSELLECK, Reinhart. Histórias de Conceitos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020. KOSELLECK, op. cit., 2011. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-17
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