Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

199 A transformação da China: autofortalecimento, modernização e crise Marco Aurélio dos Santos1 As décadas de 1840 a 1860 foram dramáticas para a China. Após a primeira Guerra do Ópio (1839-1842) e a assinatura do Tratado de Nanquim (1842), o país enfrentou problemas econômicos, sangrentas e devastadoras guerras civis e ataques externos. Além disso, as potências imperialistas ocidentais impuseram tratados desiguais que comprometeram a soberania do país. Esse padrão de derrotas militares e ameaças de guerra resultando em tratados prejudiciais marcou a dinastia Qing até sua queda em 1911. Esse período pode ser considerado um ponto de virada na história chinesa. A Era das Revoluções começava a atingir a Ásia de forma mais incisiva e a China experimentou dramaticamente as ações dos países imperialistas nesse violento processo de incorporação às cadeias de mercadorias da economia mundial capitalista.2 A China vivenciou o resultado de um longo processo histórico em que a violência permitiu que a Grã-Bretanha, outros países ocidentais e, mais tarde, o Japão subjugassem povos em várias partes do mundo, extraíssem excedentes, canalizassem esses recursos para suas fronteiras e promovessem o crescimento econômico de suas forças produtivas. Essas práticas foram cruciais para consolidar a “grande divergência” entre a China e os demais países agressores. Esse momento foi marcado por instabilidades internas e externas. Na década de 1840, a China enfrentou diversas crises, resultando em sérias tensões sociais na década seguinte. O país apresentava sinais de “estrangulamento ecológico” devido a anos de crescimento populacional e uso intensivo de recursos. A situação se agravou ao longo da segunda metade do século XIX e, 1 Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e membro docente do Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial (Lab-Mundi). 2 SANTOS, Marco Aurélio dos. Entre o passado e o futuro: a incorporação da China à economia mundial capitalista. Revista Angelus Novus, ano 15, n. 20, p. 1-29, 2024. Sobre o conceito de incorporação, ver o trabalho de Wallerstein, especialmente o capítulo 3 emWALLERSTEIN, Immanuel. The Modern World-System III: the Second Era of Great Expansion of the Capitalist World-Economy, 1730-1840s. San Diego, CA: Academic Press, 1989. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-18

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