Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

202 A transformação da China: autofortalecimento, modernização e crise o imperador Guangxu, percebido como fraco e sem personalidade. Cixi, por sua vez, bloqueou as iniciativas de Kang, enfrentando uma tentativa de golpe para matá-la. Essa conspiração envolveu funcionários corruptos cooptados por Kang, muitos dos quais eram admiradores do crescimento econômico japonês. A partir do final de setembro de 1898, Cixi conseguiu organizar um contragolpe, resultando na prisão domiciliar de Guangxu. Com isso, até sua morte em 15 de novembro de 1908, Cixi governou sem impedimentos o país, ditando as diretrizes para a modernização chinesa em um contexto crítico.10 Em todos esses conflitos, os países imperialistas se aproveitaram da debilidade do governo chinês para impor tratados insidiosos. Esses tratados são uma das marcas desse período em que a China foi subjugada pelos países estrangeiros. A “era dos tratados” teve início com o Tratado de Nanquim, como já mencionado. No seu rastro, vários outros foram impostos à China, todos seguindo o padrão ocidental de estabelecer um acordo após uma vitória em campo de batalha ou diante da ameaça de guerra. Em todos eles, a China foi obrigada a pagar indenizações, sendo o Tratado de Shimonoseki, assinado com o Japão em abril de 1895, o mais duro de todos, impressionando as potências ocidentais por seus termos financeiros. Nesse tratado, além da indenização extorsiva, mais quatro portos foram abertos para o comércio, e as Ilhas de Pescadores, Taiwan e a região de Liaodong passaram para o controle japonês “para sempre”. A intervenção dos russos, alemães e franceses levou o Japão a desistir de Liaodong mediante um aumento na indenização.11 Por essa época, o Japão estava em pleno crescimento econômico e adotava uma abordagem imperialista. Cerca de 70% do financiamento para o programa de equipagem e estruturação da marinha de guerra japonesa teve origem na indenização paga pelo governo chinês.12 Como se viu, os tratados impuseram a abertura forçada de portos aos chineses, bem como a ocupação desses portos pelos estrangeiros, além de proteção jurídica dos cidadãos dos países agressores. Segundo os estudiosos, essa associação entre comércio e guerra, praticada pelos países ocidentais e pelo Japão, era desconhecida dos chineses.13 Em outras palavras, a ação dos países imperialistas precisa ser compreendida em termos de intervenções proativas do Estado para proteger os negócios dos capitalistas e abrir mercados pelo uso da violência, com o militarismo cumprindo um papel essencial para promover o crescimento econômico.14 Após o Tratado de Shimonoseki e o recuo parcial 10 CHENG, Anne. História do pensamento chinês. Petrópolis: Vozes, 2018. p. 704-708; CHANG, op. cit. 11 SPENCE, Jonathan D. Em busca da China Moderna: quatro séculos de História. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 228; CHANG, op. cit., p. 245-247. 12 SPENCE, op. cit., p. 228; CHANG, op. cit., p. 94 13 MAHBUBANI, op. cit. 14 Vries argumenta que o papel e a função do Estado foram notavelmente diferentes na China e na Grã- -Bretanha, e essas diferenças desempenharam uma influência significativa no crescimento econômico.

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