203 Marco Aurélio dos Santos do Japão sobre a região de Liaodong, alemães, russos, franceses e britânicos retomaram a pressão sobre a China, aproveitando-se da fragilidade do país para conseguir alguns acordos vantajosos e novas exigências territoriais.15 O retalhamento territorial da China era uma ameaça iminente diante de uma dramática situação de agressividade. Nesses anos tumultuosos, Pequim, a capital da China, foi invadida duas vezes pelas potências estrangeiras. Na primeira delas, ocorreu a destruição do Antigo Palácio de Verão (Yuanming Yuan) em 1860, saqueado por tropas anglo-francesas na esteira da Segunda Guerra do Ópio (1858-1861). O Palácio, também conhecido como Jardim da Perfeita Claridade, simbolizava a riqueza e o poder da Dinastia Qing. Durante a invasão, a corte se refugiou no Pavilhão de Caça, em Chengde, a mais de duzentos quilômetros da capital.16 Em 1994, o que restou do Palácio foi declarado “base nacional de educação patriótica” pelo governo chinês, tornando-se um símbolo da grandeza da civilização chinesa e, ao mesmo tempo, representando visivelmente a agressividade das potências estrangeiras durante esse período de humilhação.17 Na época de sua destruição, a notícia repercutiu na Europa e a ação dos soldados invasores foi duramente criticada. Pequim foi atacada pela segunda vez em 1900 em consequência do caos provocado pelos boxers. Nessa ocasião, a corte se refugiou novamente longe de Pequim, em Xian, numa longa jornada de mais de mil quilômetros de distância e que durou quase três meses. Com a invasão de Pequim, uma força alemã ocupou novamente o Palácio de Verão reconstruído por ordem da imperatriz-viúva Cixi. A beleza do Palácio maravilhou os invasores e seu comandante, o conde alemão Von Waldersse. Mais uma vez ocorreram saques, embora Jung Chang considere que a destruição na segunda invasão foi menor que a primeira.18 As agressões promovidas a partir da Primeira Guerra do Ópio mostram que o caso da China permite entender como os europeus subjugavam povos estrangeiros. O vencedor do conflito ganhava o butim, pagamentos do país derrotado, territórios e a fragilização de um potencial competidor. Os europeus desenvolveram a habilidade de praticar a violência e utilizá-la para A fragilidade do Estado chinês em resistir às investidas dos países imperialistas foi um elemento central no chamado “século da humilhação”. Desde 1839, a China mostrou-se um país frágil frente à agressividade ocidental. A resposta da China às mudanças econômicas globais e às investidas militaristas dos países do Ocidente foram, em muitos aspectos, semelhantes às realizadas pelo Japão. Contudo, o resultado foi marcadamente diferente. Para uma comparação com o Japão, ver o trabalho de Vries sobre esse país. VRIES, Peer. Averting the Great Divergence. State and Economy in Japan, 1868-1937. London, Bloomsbury, 2020. 15 CHANG, op. cit., p. 260-261 16 Ibidem, p. 50. 17 WANG, op. cit., p. 53. 18 CHANG, op. cit., p. 335-339; 351-352
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