Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

215 Nicolás Alejandro González Quintero Caterina recorre à obra de Hermut Rosa para refletir sobre esses fenômenos. Os tempos não só colidem e se sobrepõem mas, como explicou Koselleck, eles também sofrem processos de aceleração produzidos por mudanças tecnológicas e políticas.5 Caterina amostra a interligação desses dois processos. Por um lado, ele explica como o avanço na propulsão de foguetes e na tecnologia dos aviões levou a uma aceleração exponencial da velocidade de locomoção. Esse ganho de velocidade mudou a percepção dos indivíduos do tempo e, sobretudo, do espaço. O mundo encolheu. Mas essas mudanças não estavam desconectadas dos processos políticos. Pelo contrário, na segunda metade do século XX, a competição entre o Ocidente e a União Soviética e a euforia tecnológica da época também promoveram esses desenvolvimentos. Isso é o que Caterina explica na segunda parte de seu texto. Segundo ele, o ótimo desempenho da economia soviética na década de 1950 gerou um crescimento da renda média, melhorou o acesso a bens de consumo, e facilitou o desenvolvimento do programa aeroespacial soviético. Seguindo Rosa, Caterina considera isso como um exemplo de um processo de aceleração de mudança social experimentado pela sociedade soviética após a Segunda Guerra Mundial. Talvez o evento mais ilustrativo da interligação entre os processos de aceleração técnica e de mudança social tenha sido o primeiro voo espacial de Yuri Gagarin em 1961. Para Caterina, a recepção doméstica do voo demonstra os interesses do governo soviético em construir uma imagem heroica de Gagarin por meio de dois aparelhos cuja expansão massiva foi causada pelo processo de aceleração de mudança social da URSS: o rádio e a televisão. Dessa forma, a aceleração técnica e a aceleração da mudança social ajudaram à União Soviética a erigir um novo mito nacional que seria chave tanto nas disputas internas pela memória da época stalinista quanto na autorrepresentação do estado soviético no exterior. Caterina demonstra a importância de entender a inter-relação entre os processos de aceleração técnica e os processos de aceleração da mudança social. Além disso, ele apresenta o paradoxo deste caso. O que podemos observar na construção de Gagarin como ícone nacional é como o resultado de um processo de aceleração técnico, produto de um processo de aceleração de mudança social, serviu para realizar algo muito tradicional: construir um herói. Será possível, nesse caso, falar de uma coexistência de tempos históricos nos processos políticos e econômicos da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial? Da mesma forma, a recepção do voo de Gagarin no exterior poderia nos ajudar a compreender como esses os dois processos de aceleração foram percebidos no Ocidente e como eles influíram nas políticas da Guerra Fria. Igualmente, considero que vale a pena refletir sobre a possibilidade de que um processo de aceleração técnica se torne costume. Estou pensando, por exem5 KOSELLECK, Reinhart. Futures Past: On the Semantics of Historical Time. New York: Columbia University Press, 2005.

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