Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

220 Representações visuais de consumo de bebidas estimulantes, 1630-1815 culturais desses alimentos relacionadas com as suas origens etc. gerando um custo final econômico e humano altíssimo.4 Suas origens geográficas distintas – o café etíope, o cacau americano e o chá chinês – que, entretanto, desaguaram em experiências bastante semelhantes de consumo e representação na Europa lhes dão um caráter particularmente curioso. Desde o século XVII, as três bebidas foram apresentadas ao novo público consumidor por meio de uma linguagem e visualidade profundamente carregadas da perspectiva europeia sobre seus espaços e culturas de origem. Essas perspectivas estiveram atreladas às relações comerciais, políticas e culturais que conectaram diferentes sociedades europeias ao Novo Mundo, ao Império Otomano e à China. É por esse caráter tão interconectado e internacionalizado das relações simbólicas e materiais que permeiam a relação com os estimulantes modernos que, na sua dimensão visual, faz-se necessário um estudo que avalie o objeto artístico na conformação de padrões representativos de longo prazo das bebidas. Perspectivas diacrônicas e sincrônicas na análise das imagens de consumo Representações visuais de consumo compõem um tema dentro de gêneros artísticos distintos inseridas em um fenômeno artístico longo de incorporação à arte europeia dos produtos importados e de luxo que inundavam o mercado. As imagens de consumo de café, chá e chocolate foram, simultaneamente, parte do devir da produção artística de modo geral e de um novo tipo de arte, aquela que representava os novos consumos e possibilidades materiais da expansão colonial e comercial pela qual passavam diversas sociedades europeias. Analisando-as como descrito acima, a visualidade do consumo de cafeinados foi posta em uma série que contém suportes e gêneros variados que foram avaliadas de forma individual e conjunta. A somatória das análises abriu 4 CLARENCE-SMITH, William G; TOPIK, Steven. The Global Coffee Economy in Africa, Asia, and Latin America, 1500-1989. Cambridge: Cambridge University Press, 2003; JAMIESON, Ross W. The Essence of Commodification: Caffeine Dependencies in the Early Modern World. Journal of Social History, v. 35, n. 2, p. 269-294, 2001; TROUILLOT, Michel-Rolph. Motion in the System: Coffee, Color, and Slavery in Eighteenth-Century Saint-Domingue. Review, v. 5, n. 3, p. 331-388, 1982; MARQUESE, Rafael de Bivar. A Tale of Two Coffee Colonies: Environment and Slavery in Suriname and Saint-Domingue, ca. 1750-1790, Comparative Studies in Society and History, v. 64, n. 3, p. 722-755, 8. mar. 2022; RAPPAPORT, Erika, A Thirst for Empire: How Tea Shaped the Modern World. Princeton: Princeton University Press, 2017; CLARENCE-SMITH, W. G. Cocoa and Chocolate, 1765-1914. London: Routledge, 2000; NORTON, Marcy. Tasting Empire: Chocolate and the European Internalization of Mesoamerican Aesthetics. The American Historical Review, v. 111, n. 3, p. 660-691, 1 jun. 2006.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz