Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

221 Nicole L. Bianchini caminho para o entendimento de cada objeto como um fenômeno único, mas inserido em movimentos amplos de transformação tanto de mercados locais de arte e commodities quanto de possibilidades e referências artísticas que reforçam ou quebram com as tradições e padrões artísticos vigentes. Em outras palavras, cada imagem possui sua própria tipologia. Suportes diferentes geram cadeias produtivas, distributivas e de consumo distintas, atingindo públicos variados e com propósitos específicos. A autoria de cada imagem elucida as redes de circulação de referências entre os artistas, o alcance da sua obra dentre grupos sociais, e o número de obras produzidas por um determinado indivíduo. Esse contexto tem peso na análise da imagem enquanto fenômeno sincrônico, mas na análise serializada (diacrônica), as imagens revelam padrões e convenções sobre como se deveria representar o consumo de estimulantes que extrapolam essas peculiaridades individuais. A gravura5 e o óleo foram os suportes mais utilizados para a produção de imagens de consumo de estimulantes – e isso se repete em todos os países analisados, independentemente da quantidade de imagens coletadas em cada um deles. A primeira é uma técnica mais barata, de circulação ampla e que podia ser produzida com propósitos diversos, desde comercial (seja da sua venda ou como fac-símile de obras em óleo para promovê-las) até político e satírico.6 Já o óleo, principalmente no gênero do retrato, é tipicamente mais caro e mais trabalhoso, normalmente sujeito ao fluxo de encomendas e aos interesses dessa clientela.7 As referências estéticas e artísticas dessa produção também têm uma genealogia clara: encontram-se elementos da arte italiana, para onde muitos artistas e clientes viajavam e onde se formavam, e as suspensões do movimento e a retratação de cenas cotidianas e informais, herdadas da pintura holandesa.8 Tais elementos coexistiram com fenômenos de tempos mais curtos, como o auge da demanda por consumo de chá em retratos familiares ingleses – entre as décadas de 1720 e 1760 e esmoreceu posteriormente – ou a prevalência alongada de representações de lazer aristocráticas como a norma dessa visualidade na Espanha quando outros padrões representativos eram vistos no noroeste europeu.9 5 Aqui, “gravura” abrange todas as técnicas, como a água-forte, o pontilhado, etc. Por “óleos”, compreendem-se óleos sobre tela, que são a maioria da série, e óleo sobre painel. 6 Sátira aqui é classificada como imagem humorísticas cujos alvo são as elites, seus costumes, e/ou eventos políticos ou culturais de relevância no momento de sua produção. 7 RETFORD, Kate. The Conversation Piece: Making Modern Art in Eighteenth-Century Britain. The Paul Mellon Centre for Studies in British Art. New Haven: Yale University Press, 2017. p. 1-31. 8 ALPERS, Svetlana. A arte de descrever: a arte holandesa no século XVII. São Paulo: EDUSP, 1999; BAXANDALL, Michael. Painting and experience in fifteenth century Italy: a primer in the social history of pictorial style. Oxford; New York: Oxford University Press, 1988; FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1973. 9 CHIN-JUNG, Chen. From genre to portrait: The etymology of the “conversation piece”. The British Art Journal, v. 13, n. 2, p. 82-85, 2012; A arte francesa e holandesa incluiu posteriormente o café e

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