Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

252 A Guerra de Sessenta Anos. A região-mundo platina e as causas do conflito de 1864 raio jurídico do Tratado de Comércio e Navegação e a redução do estuário platino a um só país. A saída foi a mediação de 1828 nos termos da Convenção de fato apenas Preliminar de Paz, pela qual Londres obteve a independência do Uruguai e o compromisso dos signatários quanto à livre navegação do Prata. Demorado, o êxito pareceu então completo, dado que vinha na esteira da dupla assinatura realizada entre 1825 e 1826 dos tratados que reconheceram as independências das Províncias Unidas e do Império do Brasil, em troca, naturalmente, de imensos privilégios alfandegários. Pela mesma Convenção de 1828, muito oportunamente, argentinos e brasileiros também encontraram sua margem de autonomia, no caso, em relação ao Uruguai. Reservaram-se o direito de prestar auxílio ao governo legal uruguaio, o que era um artificio para a intervenção militar, ratificada, aliás, pela possibilidade de manterem tropas em Montevidéu até a constitucionalização do país.19 Nesses termos, a autonomia do Uruguai em sua inserção no Prata, ao contrário do Paraguai, realizou-se pela pendularidade. Foi essa a constância oriental até a década de 1850. Platinos no nascedouro, os partidos políticos uruguaios tenderam a apadrinhar, no caso dos blancos, a vertente nacionalista de Buenos Aires ou, no dos colorados, a de livre comércio do Rio de Janeiro – e de Londres, ou inclusive Paris. Ambos, no entanto, miravam na defesa da soberania nacional, malgrado as estratégias conflitantes. Assim como a guerra civil entre blancos e colorados que irrompeu no Uruguai no final da década de 1830 não significou uma ruptura, mas a própria essência da constância oriental, o conflito interno que também caracterizou o Império até 1845 tampouco pôs em xeque a contenção de Buenos Aires. Os farrapos não foram permissivos com a Confederação Argentina, sequer no triênio 1835-1838, quando a ela se aliaram, alargando o eixo constituído por Rosas e Manuel Oribe, líder dos blancos no Uruguai. Já expressivos – porque os blancos eram contrários à propriedade gaúcha na fronteira e a economia argentina era concorrente da farroupilha – os custos da aliança, necessários para suportar o bloqueio naval que o Rio de Janeiro impusera ao litoral rio-grandense, tornaram-se amplos demais a médio prazo.20 Em 1838, os farrapos distanciaram-se dos blancos em benefício dos colorados, e a nova aliança terminou torcendo a pendularidade colorada.21 Escorados no bloqueio que Paris impusera ao porto de Buenos Aires, os colorados terminariam depositando sua maior aposta nas lideranças das províncias argentinas de Santa Fé, Corrientes e Entre Rios. 19 FREGA, Ana. Guerras de independencia y conflictos sociales em la formación del Estado Oriental del Uruguay, 1810-1830. Dimensión Antropológica, Cidade do México, v. 35, p. 25-58, set./dez. 2005. 20 GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos. Regiões-província na Guerra da Tríplice Aliança. Topoi, Rio de Janeiro, v. 10, n. 19, p. 70-89, 2009. 21 FERREIRA, Gabriela Nunes. O rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 2006.

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