Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

255 Rodrigo Goyena Soares para o Prata em 1851. O êxito foi absoluto. Prenunciada em 1845, o Império formalizou a aliança com os colorados de Rivera e as principais lideranças antirosistas, naquele momento, Justo José de Urquiza, de Entre Rios, e Benjamín Virasoro, de Corrientes. A um custo expressivo, considerados os empréstimos externos que o Rio de Janeiro concedida a seus novos aliados28, o Império lograria impor sua hegemonia no Prata. A derrota de Oribe importou na subsequente assinatura em 1851 de tratados desiguais, uma espécie de emulação do que Londres ditara ao Rio de Janeiro décadas antes: pelo acordo, ficavam abolidos os direitos alfandegários sobre a pecuária gaúcha no Uruguai, que, agora, concedia ao Império o direito de intervenção em caso de conflito interno, podendo o Brasil, ainda, solicitar a extradição de escravos foragidos: um particular interesse dos antigos farrapos. De fundamental importância para o Rio de Janeiro, ainda, garantia-se a livre navegação do rio Uruguai, o que o Império também obteve em relação ao Paraná com a derrota de Rosas em fevereiro de 1852.29 De forma igualmente lisonjeira para o Império, a Argentina implodiu em dois Estados independentes após a pacificação do Uruguai: a nova Confederação Argentina e o Estado de Buenos Aires. Naquelas condições, a fragmentação do antigo rival – com palpável dispersão, para as duas Argentinas, de suas capacidades orçamentárias, suas projeções militares e suas articulações diplomáticas – reforçou a unipolaridade de um Império que substituiu, então, a pretérita política de contenção a Buenos Aires pela de manutenção do status quo – naturalmente – hegemônico. Na perspectiva da região-mundo platina, o conflito de 1864 teve suas origens precisamente nessa radical alteração de padrões, não apenas brasileiro, que decorreu do biênio 1851-1852. Nenhuma das Argentinas reconduziu o expansionismo territorial que caracterizara Rivadavia ou Rosas. O Estado de Buenos Aires, liderado por Valentín Alsina, Pastor Obligado e Bartolomé Mitre, preocupou-se em obter o reconhecimento internacional e, sobremaneira, em demover o Império do apoio financeiro que prestava à nova Confederação Argentina de Urquiza.30 Por sua vez, Urquiza, que fixou a capital na cidade de Paraná, reconheceu em 1852 a independência do Paraguai, agora liderado por Carlos Antonio López. Com ele, Urquiza dispôs-se a barganhar facilidades de navegação e comércio: uma maneira de sedimentar uma aliança oportuna 28 FERREIRA, Gabriela Nunes. O rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 2006. 29 SOUZA, José Antônio Soares de. Honório Hermeto no rio da Prata (Missão especial de 1851/52). Brasília: FUNAG, 2022. 30 É o que sobressai da correspondência entre diplomatas portenhos e brasileiros na década de 1850, o que ainda merece maior pesquisa. A esse respeito, consultar: Archivo Histórico de Cancillería (AMREC, Buenos Aires) – Colección Estado de Buenos Aires, Caja 7, Legación Imperial en Buenos Aires; e Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI, Rio de Janeiro) – 205-003-002/3/4/5/10, Buenos Aires, Ofícios Recebidos/Despachados; e 271-1-5, Argentina, Ofícios ostensivos, reservados e confidenciais / Cartas particulares recebidas do chefe de missão.

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