257 Rodrigo Goyena Soares encontrou-se nacionalmente consolidado como semi-protetorado do Império na década de 1850: talvez uma estranha forma de Estado-nacional, porém em tudo distante da situação pendular anterior, própria à fragilidade territorial do país. A nova pendularidade uruguaia, pela qual os blancos, de volta ao poder em 1860, apadrinharam as ambições de Solano López, não se processava mais como garantia à existência do Estado-nacional uruguaio, mas como aversão à unipolaridade imperial. Os próprios argentinos consentiam agora com a soberania uruguaia, mesmo se unidos aos brasileiros na defesa dos colorados: na perspectiva de Buenos Aires, a maior aposta para manter Urquiza, um potencial aliado dos blancos, preso a sua derrota em Pavón. Assim, como enraizamento da radical transformação na balança platina de poder ocorrida em meados do século, todos os padrões platinos já estavam modificados no início da década de 1860. Era o maior sintoma de um novo tempo na formação dos Estados-nacionais platinos. A própria intervenção imperial de 1864 no Uruguai, por curioso que pareça, não foi um mecanismo de preservação da soberania Uruguaia, como ocorrera em meados do século para conter o expansionismo de Buenos Aires, mas um novo alerta com o qual Rio de Janeiro expressava não estar disposto a rever os termos de sua hegemonia. O que incomodava da aproximação entre blancos e lopistas não era a ameaça que o conluio impunha ao status quo estado-nacional – de jure e de fato, endossado por todos no Prata –, mas ao status quo hegemônico do Império, precisamente àquela altura já alterado. Em outras palavras, a aliança blanco-lopista manifestava uma força contra-hegemônica, num tempo, então, em que os Estados-nacionais do Prata estavam efetivamente consolidados: as disputas civis que subsistiram na Argentina e no Uruguai, inclusive quando já assinada a Tríplice Aliança, não se assemelharam às pretéritas revisões de extensões territoriais, às reavaliações das unidades estatais ou, simplesmente, aos reexames das identidades nacionais.36 Talvez de maneira menos intuitiva, o próprio distanciamento dos vizinhos em relação a esse novo tipo de conflito – o que era inconcebível décadas antes – evidenciou quão nacionalizados agora estavam os embates civis. Conclusão Nesses termos e assumindo, pelo menos na abordagem da região- -mundo, que os Estados-nacionais platinos estavam consolidados quando 36 PAZ, Gustavo. La vida política. In: GELMAN, Jorge (org.). Argentina: la construcción nacional. Tomo 2, 1830-1880. Madrid: Fundación MAPFRE; Taurus, 2011. p. 29-80; CAETANO, Gerardo. La vida política. In: CAETANO, Gerardo. Uruguay. Reforma social y democracia de partidos. Tomo II: 1880-1930. Madrid: Fundación MAPFRE; Planeta, 2015. p. 35-84.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz